Powered By Blogger

sábado, 14 de junho de 2014

Ler é a arte de desfazer nós cegos?

Por Claudio Pereira

 Quando criança, ouvia muitas estórias de trancoso contadas por pessoas mais vividas. Aquilo me atraía. Ainda recordo do ambiente bucólico e daquele recinto da casa de meus pais onde havia um punhado de livros (comprados por minha mãe) à minha disposição: Viagens de Gulliver, Soldadinho de Chumbo, Coleção Serelepe, Coletânea Continental etc. O que dizer daquele dicionário de inglês que traduzi tantas músicas ao pé da letra. Hoje, com a internet (tecnologia desenvolvida na época da Guerra Fria), parece tão simples. Naquela época, minha mãe, professora por vocação, era diretora de uma escola primária em Lajeado II - MA. As imagens das capas dos livros chamavam minha atenção e assim surgiu minha atração pela leitura. Hoje sei por que sou um aficionado por literatura, filosofia e ciências sociais. Concomitantemente a isto, outras paixões se manifestaram: o desenho e a música.

Hoje, graças, sobretudo a minha mãe, o legado de grandes autores do mundo literário, filosófico, musical, científico e o movimento estudantil uemiano, não sou um sujeito fadado a ingenuidade. Atualmente sei porque as fantasias da infância se desfazem na idade adulta. Dentre as obras que me permitiram ver o mundo além da caverna, cito quatro poemas para quem quer desfazer nós cegos lendo (como diz Goethe). Sem dúvida, são ótimas dicas de leitura para aqueles que querem compreender o mundo contemporâneo, cheio de flores, mas recheado de venenos. Por que não citar Cazuza, um burguês de nascimento e socialista nas ideias?



Ode ao Burguês - Mário de Andrade

Eu insulto o burguês! O burguês-níquel,
o burguês-burguês!
A digestão bem feita de São Paulo!
O homem-curva! O homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!

Eu insulto as aristocracias cautelosas!
Os barões lampiões! Os condes Joões! Os duques zurros!
Que vivem dentro de muros sem pulos,
e gemem sangues de alguns mil-réis fracos
para dizerem que as filhas da senhora falam o francês
e tocam os “Printemps” com as unhas!

Eu insulto o burguês-funesto!
O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!
Fora os que algarismam os amanhãs!
Olha a vida dos nossos setembros!
Fará Sol? Choverá? Arlequinal!
Mas à chuva dos rosais
o êxtase fará sempre Sol!

Morte à gordura!
Morte às adiposidades cerebrais
Morte ao burguês-mensal!
Ao burguês-cinema! Ao burguês-tílburi!
Padaria Suíça! Morte viva ao Adriano!
“_ Ai, filha, que te darei pelos teus anos?
_ Um colar… _ Conto e quinhentos!!!
Mas nós morremos de fome!”

Come! Come-te a ti mesmo, oh! gelatina pasma!
Oh! Puré e de batatas morais!
Oh! Cabelos nas ventas! Oh! Carecas!
Ódio aos temperamentos regulares!
Ódio aos relógios musculares! Morte à infâmia!
Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados!
Ódio aos sem desfalecimentos nem arrependimentos,
sempiternamente as mesmices convencionais!
De mãos nas costas! Marco eu o compasso! Eia!
Dois a dois! Primeira posição! Marcha!
Todos para a Central do meu rancor inebriante!

Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio!
Morte ao burguês de giolhos,
cheirando religião e que não crê em Deus!
Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico!
Ódio fundamento, sem perdão!

Fora! Fu! Fora o bom burguês!…
 
 

 

 
 O maior trem do mundo  - Carlos Drummond de Andrade
(nascido em Itabira, MG - 1902-1987)

O maior trem do mundo
Leva minha terra
Para a Alemanha
Leva minha terra
Para o Canadá
Leva minha terra
Para o Japão

O maior trem do mundo
Puxado por cinco locomotivas a óleo diesel
Engatadas geminadas desembestadas
Leva meu tempo, minha infância, minha vida
Triturada em 163 vagões de minério e destruição
O maior trem do mundo
Transporta a coisa mínima do mundo
Meu coração itabirano

Lá vai o trem maior do mundo
Vai serpenteando, vai sumindo
E um dia, eu sei não voltará
Pois nem terra nem coração existem mais.

 
O Analfabeto Político - Bertolt Brecht
 O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.
 O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.

Privatizado - Bertolt Brecht

Privatizaram sua vida, seu trabalho, sua hora de amar e seu direito de pensar.  É da empresa privada o seu passo em frente, seu pão e seu salário.  E agora não contentes querem privatizar o conhecimento, a sabedoria, o pensamento, que só à humanidade pertence.
 
A burguesia fede / A burguesia quer ficar rica / Enquanto houver burguesia /Não vai haver poesia.
A burguesia não tem charme nem é discreta / Com suas perucas de cabelos de boneca
A burguesia quer ser sócia do Country / A burguesia quer ir a New York fazer compras.
Pobre de mim que vim do seio da burguesia / Sou rico, mas não sou mesquinho
Eu também cheiro mal / Eu também cheiro mal.
A burguesia tá acabando com a Barra / Afunda barcos cheios de crianças / E dormem tranquilos / E dormem tranquilos.
Os guardanapos estão sempre limpos / As empregadas, uniformizadas / São caboclos querendo ser ingleses / São caboclos querendo ser ingleses.
A burguesia fede / A burguesia quer ficar rica / Enquanto houver burguesia / Não vai haver poesia.
A burguesia não repara na dor / Da vendedora de chicletes / A burguesia só olha pra si
A burguesia só olha pra si / A burguesia é a direita, é a guerra.
A burguesia fede / A burguesia quer ficar rica / Enquanto houver burguesia
Não vai haver poesia.
As pessoas vão ver que estão sendo roubadas / Vai haver uma revolução / Ao contrário da de 64 / O Brasil é medroso.
Vamos pegar o dinheiro roubado da burguesia / Vamos pra rua / Vamos pra rua /
Vamos pra rua / Vamos pra rua / Pra rua, pra rua.
Vamos acabar com a burguesia / Vamos dinamitar a burguesia / Vamos pôr a burguesia na cadeia / Numa fazenda de trabalhos forçados / Eu sou burguês, mas eu sou artista / Estou do lado do povo, do povo.
A burguesia fede - fede, fede, fede / A burguesia quer ficar rica / Enquanto houver burguesia
Não vai haver poesia.
Porcos num chiqueiro / São mais dignos que um burguês / Mas também existe o bom burguês / Que vive do seu trabalho honestamente / Mas este quer construir um país / E não abandoná-lo com uma pasta de dólares.
O bom burguês é como o operário / É o médico que cobra menos pra quem não tem / E se interessa por seu povo / Em seres humanos vivendo como bichos / Tentando te enforcar na janela do carro / No sinal, no sinal / No sinal, no sinal.
A burguesia fede / A burguesia quer ficar rica / Enquanto houver burguesia / Não vai haver poesia.

Obs.: O poema de Drummond é bem atual e retrata o contexto econômico do sudeste do Pará, onde grandes mineradoras  exportam diuturnamente minérios de valor estratégico para a indústria mundial e pagam preço de banana podre por eles.

Outra questão: o titulo deste texto é uma frase de autoria do escritor alemão Goethe. Coloquei uma interrogação na mesma porque convenhamos: com tantos intelectuais fabricados por aí, ler ao invés de ajudar a desatar o nó, poderá levar a um processo inverso, aumentando mais os nós. Recentemente, um desses falsos intelectuais foi denunciado por ter plagiado sem o menor pudor, justamente a obra que deu projeção ao mesmo. 
Dicas: ouçam a música subdivision da banda canadense RUSH.

Falácias que conformam

Por Claudio Pereira
 

 
Recentemente a presidenta Dilma Rousseff deu uma entrevista em cadeia nacional contrapondo os “pomposos” gastos com educação e saúde nos últimos quatro anos com os “humildes” gastos da construção das arenas para a copa. Discurso fajuto e ideologizado, pois se os investimentos nos setores educacional e de saúde tivessem sido proporcionais aos das arenas, a infraestrutura das escolas e hospitais estariam provavelmente equiparadas ao padrão FIFA dos estádios.
 Dados de 2005 mostram que, de todas as escolas brasileiras - somando ensino fundamental e médio -, 12.231, ou 6,5%, não têm sequer um banheiro e que em 2002, havia no país 192.193 escolas (169.075 de ensino fundamental e 23.118 de ensino médio) e 186.288 (162.727 e 23.561, respectivamente) em 2004. O censo escolar também mostra que, em 2005, 25.821 escolas (13,8%) não tinham energia elétrica e 40.972 (22%) tinham apenas uma sala de aula. E apenas 48.272 escolas (25,9%) tinham acesso à internet, não necessariamente disponível aos alunos. O número de instituições com laboratórios de ciência é ainda menor: apenas 25.399 (13,6%).
Se você quiser mais dados da pesquisa, os números, de 1999 a 2005, sobre educação infantil, ensino fundamental, médio e superior estão disponíveis no site edudatabrasil.inep.gov.br.
São Paulo, maior cidade do país, o ensino fundamental e médio nas redes municipal e estadual apresentam situações precárias. Atualmente, apenas 12,4% das escolas públicas têm bibliotecas. Além disso, de cada dez colégios, apenas três abrigam laboratórios de ciências.
No Pará não é diferente, ainda mais em um estado onde grandes conglomerados transnacionais pilham as riquezas naturais com plena anuência dos governos, da burguesia nacional e ingenuidade do povo. Mesmo tendo o município que mais exporta no país, o governo do Pará recorre a empréstimos frente a organismos multilaterais internacionais para quem sabe, amenizar problemas estruturais de base nas áreas da educação e da saúde.
Tais mazela são graves e só são destaque na mídia patronal de massa por dois motivos: 1) como é impossível esconder o caos, fingir está preocupado é uma forma de não reincidir no erro de Maria Antonieta e garantir o status quo do sistema socioeconômico; 2) quando a mesma sobe indiretamente no palanque para promover ou deturpar a imagem de aliados ou adversários da burguesia. Por que será que têm idiotas vaiando a presidenta antagonicamente dentro dos estádios?
O problema é cosmopolita. Em uma pequena, média ou grande escala, não há ente federativo que esteja imune a tal mazela que só será extirpada do nosso cotidiano no dia em que nós trabalhadores formos sujeitos ativos dentro do processo educacional e não meros coadjuvantes, vítimas de um sistema educacional ideologizado e classista dirigido pelos inimigos históricos da classe operária.

Brasileiro é hospitaleiro.
Tenho minhas dúvidas quanto a isto.
Acho que isto depende da região, do país e da classe social de quem chega.
Quem não está por dentro do controverso incidente envolvendo os governos dos estados do Acre e de São Paulo no que tange os imigrantes haitianos? Ou então dos nordestinos no Centro-Sul? Ou ainda dos favelados no Rio de Janeiro?
Enquanto o turista gringo é bem recebido (cuidado com os assaltos), brasileiros estão sendo barrados dia e noite pelas controversas UPP’s. Mão na cabeça e documento é a rotina de quem não habita áreas ricas nos espaços urbanos deste país. Frequentar áreas nobres só se for para fazer o serviço pesado. Isto nos faz lembrar do famigerado apartheid na África do Sul.

Se nos limitarmos às aparências de frases feitas, não nos daremos conta de que o intuito de quem as profere é apenas cegar o povo para problemas gravíssimos como os supracitados. O discurso é sempre de grandeza e riqueza, mas a realidade é de tamanha pobreza, ainda mais em um país onde 15 famílias tem riqueza equivalente ao PIB de todos os estados da Região Norte.
Conscientizar, unir e organizar o povo por quê? Isto cheira a revolução.
Dica de documentário: The Price of the World Cup.

domingo, 18 de maio de 2014

Os gladiadores modernos

Por Claudio Pereira
 
Por que certas personalidades, seja do mundo artístico, seja do meio futebolístico são exaltadas exaustivamente e reiteradamente cotidianamente?
Homens que majoritariamente tem um histórico de escravidão econômica e que escaparam da mesma por meio do funil do bilionário mercado esportivo vão se digladiar em modernas arenas feitas à custa do suor e sacrifício socioeconômico de milhões de pessoas. A massa, assim como no Império Romano, será distraída dos reais interesses da mesma (educação libertadora e de qualidade, saúde, trabalho digno, socialização da riqueza que ela mesma produz, moradia de qualidade e cidades com espaços de prática esportiva e culturais para todos e sem alienação). As grandes corporações capitalistas (esportivas ou não) faturarão alto. O governo corrupto também se beneficiará, pois às vésperas de um processo eleitoral, a massa que tem a incumbência de legitimar o poder de candidatos compromissados com os interesses da burguesia capitalista será esquecido de vez pela maioria.
Críticas poderão advir, pelo menos por parte de uma minoria de indivíduos com senso crítico. Vaias simplórias e antagônicas como as que ocorreram na copa das confederações poderão ocorrer novamente contra a presidenta se ela for aos estádios, ora, os grupos que trabalham no processo de alienação da massa cotidianamente, estão através de seus canais de comunicação com o povão, em certos momentos, utilizando o mesmo discurso de moralidade que as pessoas de boa índole e senso crítico fazem contra os gastos da copa, mas contrariamente a pretensão destes últimos, tais sofistas querem apenas promover grupos políticos plenamente confiáveis aos seus interesses e que “trabalhem” para manter o status quo socioeconômico do país. Mané de Viola que se contenta com a aparência dos discursos moralistas falaciosos da burguesia e sem compreensão do processo ideológico se equivoca reiteradamente e é apenas massa de manobra nas mãos da burguesia.
A prática esportiva é de suma importância para a saúde e bem-estar do ser humano, o problema é que as classes que se alternaram no comando e exploração da humanidade ao longo dos séculos, sempre utilizaram o esporte como instrumento de alienação e comércio lucrativo para as mesmas. No Império Romano, gladiador vencedor era sinônimo de portal para a liberdade. Em países como o Brasil, onde a maioria da população vive em estado de pobreza crônica, o futebol acaba sendo a única possibilidade de meninos pobres se libertarem da escravidão econômica. Poucos conseguem tal façanha, a maioria continuará a viver em áreas precárias, sem escolas dignas, pratica esportiva limitada, salários baixíssimos, acompanhando os grandes eventos esportivos pela TV ou assistindo programas e ouvindo músicas com nenhum teor crítico ou intelectual. Se dentro da precariedade, vacilarem e caírem no submundo do crime, serão sugados para os calabouços modernos destinados aos pobres infratores. Já os pouquíssimos que se dão bem no concorrido mercado esportivo se tornam referência e exemplo a ser seguido pela massa espoliada. Sem senso crítico, o gladiador moderno, ostentando luxo, dinheiro, carrões, louras cinematográficas, não se dá conta que é apenas uma marionete com um único objetivo: distrair a massa, além de fomentar o consumo das grandes marcas que financiam os mesmos.
A roupagem do pão e circo mudou, mas a essência continua sendo a mesma de milhares de anos atrás. É flagrante a projeção enfadonha da imagem de indivíduos toscos dia e noite em todos os meios de comunicação de massa deste país. Fomentar paixões, criar mitos e fazer arenas suntuosas é mais útil para a burguesia do que construir escolas de qualidade e democrática para a massa, onde os profissionais da educação tenham direitos plenos, dignidade, qualificação e respeito. Não é a toa que quando perguntamos em sala de aula se os alunos querem ser professores, raramente um levanta o braço, pois desde pequenos só escutam coisas negativas sobre o sistema educacional. Pergunte a eles quem é o técnico da seleção que a maioria sabe de có. Pergunte quem é o ministro da educação? A maioria olha ao redor do ambiente em que vivem e raramente acham exemplos em que educação escolar fez diferença para alguém.
Os “sábios” taioistas diziam que não se devia conceder saber ao povo, porque ele desperta desejos, afirmando que ao homem do povo bastariam “músculos sólidos e vontade escassa, estomago satisfeito e coração vazio“. Pergunto: isto é coisa do passado? O senso comum com campo de visão limitado e embasado em poucos exemplos de sucesso acha que sim.

sábado, 12 de abril de 2014

Insensibilidade da burocracia burguesa é cosmopolita e ilimitada

Bebê acusado de tentativa de homicídio vira "fugitivo"
Criança de nove meses estava livre sob fiança e foi levada para outra cidade paquistanesa por familiares.
Segundo a agência de notícias Reuters, o bebê de nove meses, Mohammad Musa Khan, acusado pela justiça do Paquistão de planejar um homicídio, ameaçar a polícia e interferir em assuntos do Estado se tornou um "fugitivo".
 
Musa estava em liberdade "sob fiança", com data do processo judicial marcada para o dia 12 de abril, mas os parentes do menino afirmam não saber se ele comparecerá.
"A polícia é vingativa. Agora eles estão tentando resolver o caso na base pessoal. Por isso mandei levarem meu neto para [a cidade paquistanesa] Faisalabad por motivos de proteção", disse o avô do bebê, Muhammad Yasin, à Reuters nesta terça-feira (8).
Caso
O bebê de nove meses, Mohammad Musa Khan, precisou comparecer a um tribunal no Paquistão para ser fichado e registrar sua impressão digital. Ele é acusado de tentativa de homicídio e apedrejamento por conta de um ataque a policiais no país.
O caso aconteceu no último dia 1º de fevereiro, quando um grupo de policiais foi a uma casa para cobrar o pagamento de uma conta de gás. Após um desentendimento, o pai do bebê, um irmão mais velho e outras pessoas presentes na residência jogaram tijolos nos oficiais e deixaram alguns deles feridos.
A criança foi aparentemente indiciada porque um inspetor assistente afirmou, em boletim de ocorrência, que “toda a família de Musa participou de uma agressão que o atingiu na cabeça”.
Engano
Crianças menores de sete anos não podem ser acusadas de crime no Paquistão. Segundo a polícia, houve um engano porque não sabiam que, ao fazer o boletim incluindo toda a família, um dos membros tinha apenas 9 meses. O inspetor assistente que fez o documento receberá uma suspensão, mas a ordem para isso só veio depois que o pequeno Muhammad já havia sido liberado provisoriamente pelo juiz, que adiou o caso para o dia 12 de abril.
        Por aqui o que há de lambanças e injustiças que não são veiculadas.
        Se for preciso manter um inocente preso ou prejudicá-lo num processo para não aparecer a estupidez das instituições, que assim seja.
Dica de filme: Em nome do pai.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Você comemorou os 50 anos da ditadura?

Por Claudio Pereira

Não dá para passar em branco diante da farsa dos 50 anos do Golpe Militar de 1964. Uma ditadura burguesa-capitalista violenta que teve um único intuito: barrar o comunismo em ascensão pelo mundo e manter a ordem burguesa.
Hoje, os mesmos indivíduos que financiaram a ditadura no Brasil são os mesmos que estão a comerar sua queda. Dá enjoo diante de tanta demagogia. Não é tarefa difícil para eles, pois sabem muito bem da falta de conhecimento histórico do povo e são conscientes que os militares fizeram bem o serviço. Fingir ser democrata é uma forma de evitar uma insurreição e manter o status quo. Eles estão por aí a prometer uma coisa que jamais irão fazer: justiça social e econômica.
Dizer que lutou contra a ditadura virou sinônimo de status, pelo menos para certos fascistas da indústria do entretenimento e de alguns círculos do poder político e econômico. Mas quem realmente foi contra a ditadura? Ser contra a ditadura, mas a favor do capitalismo não é uma contradição?
No Império Romano, os césares eram homens nomeados pela aristocracia para barrar e aniquilar possíveis insurreições populares. Ocorre que quando os mesmos cumpriam tal tarefa não queriam mais deixar o poder, desagradando os patrícios que para retomar o controle político do império, precisavam golpear quem eles nomearam para golpear os plebeus, não eles.
Nas ditaduras recentes não é muito diferente. Muitos vermes que hoje se intitulam democratas ajudaram a implantar ditaduras pelo mundo a fora e depois tiveram que lutar para derrubá-las para ter novamente o controle do estado-burguês. Hoje, para muitos ignorantes, todo indivíduo que era contra a ditadura era supostamente de esquerda ou comunista, democrata. O que tem de farsantes se promovendo à custa disto! Alguns já foram até presidentes e mostraram sua real face pilhando a riqueza do país em prol do capital internacional.
Após vinte anos de ditadura a ordem burguesa foi mantida: corrupção, concentração de renda, falta de trabalho e moradia para muitos, divisão de classes, o preconceito em suas várias faces, injustiça, violência, ensino público dosado e precário, marginalização da cultura de massa, inchaço urbano etc. Se a coisa não funciona é porque atualmente os mesmos indivíduos que implantaram e financiaram a ditadura monopolizam os meios de comunicação e os poderes político e econômico.
Reiteradamente, esses farsantes têm que mostrar as truculências da ditadura nos seus meios de comunicação (livros, internet, revistas, televisão, rádios), não como forma de conscientização política e libertação da consciência, mas como ameaça para que as novas gerações aceitem o nefasto modelo socioeconômico atual como melhor coisa que existe. Mas como nem todos são ingênuos, a máscara aos poucos vai caindo. A republiqueta burguesa está em permanente crise de norte a sul, de leste a oeste e uma greve geral não vai tardar.
A ditadura aberta se foi, mas a ditadura camuflada está aí e, se parcela do povo se libertar do legado da ditadura militar e começar se articular para acabar com o capitalismo que só atrapalha suas vidas, pode ter certeza que outra ditadura virá.
A burguesia está comemorando os 50 anos da ditadura. E você, desprezado pelo sistema e que despreza a história, comemora ou comemorou de que forma?
Matar a memória do povo sempre foi uma fortíssima arma de qualquer classe corrupta que almeja manter o status quo. Matar quem luta por igualdade plena também. Se hoje aturamos a corrupção burguesa e acreditamos nos seus discursos falaciosos é porque algo está errado em nossas mentes.

terça-feira, 11 de março de 2014

Crônica de um judiciário classista

Por Claudio Cubano

Eu sou do povo
Eu sou um Zé Ninguém
Aqui embaixo as leis são diferentes.
(Biquíni Cavadão)
Em uma determinada cidade do interior da Basileia, Zé Pra Alguma Coisa, filho da... foi preso por um policial que fora acionado por uma secretaria de escritório de advocacia. Meses depois, na audiência, um fato expôs a fragilidade e as antinomias do direito daquele feudo. Analisemos o fatídico:
O sujeito chega a um escritório de advocacia, a secretaria bem vestida e educada fica com medo do mesmo, sujeito mal encarado e mal vestido com cara de bandido pobre. Nos autos a mesma alegou que o mesmo tinha uma arma, pois ao se direcionar a mesma botou as mãos na cintura, que uma advogada saiu e entrou em pânico, pois segundo ela, tal individuo havia roubado a mesma há alguns dias. Começou a confusão. As mulheres em pânico chamaram à atenção dos transeuntes e advogados da vizinhança e um policial que trabalhava no Fórum da cidade foi acionado, o suspeito foi perseguido, rendido e posteriormente preso e passou vários meses preso até a primeira audiência.
Na audiência, o preso estava presente e acompanhado de um Defensor Público. Das testemunhas, só o policial que efetuou a prisão estava presente. O juiz começou o interrogatório: _ O Senhor está sendo acusado de no dia tal, do mês tal, do ano tal, ter tentado roubar o escritório de advocacia X, localizado à rua tal, do bairro tal, da cidade tal, como consta nos autos do processo. O réu, sujeito pobre, aparentemente pouco letrado se defendeu: _Seu Juiz eu fui até o local pedir uma ajuda para poder viajar. Ao entrar no escritório a moça ficou com medo e nem perguntou o que eu queria. Diante do mal entendido senti uma dor no abdome por causa de uma cirurgia que tinha feito no local e coloquei a mão na cintura. A moça começou a gritar e chegaram populares que começaram a me espancar até a chegada de um policial que efetuou a minha prisão. Uma testemunha (o policial) foi chamada e o juiz perguntou-lhe: _ Senhor Fulano de Tal, foi este homem que você prendeu no dia tal, do mês tal, do ano tal, na rua tal? O policial de certa idade respondeu: _Não lembro Excelência (risos). O excelentíssimo Juiz de Direito perguntou pelas outras testemunhas (a secretaria e três advogados), mas nenhuma estava presente no interrogatório. _E agora! Exclamou Vossa Excelência. Pensei: serão coagidas pela autoridade competente a comparecer em juízo. Conversa fiada. Ficou por isso mesmo.
E assim terminou tal história que reflete a fragilidade do sistema penal da Basileia. Zé Pra Alguma Coisa, provavelmente foi vitima de preconceito e passou vários meses preso (até aquele momento) por causa de uma acusação infundada. Mais gordo, já que o mesmo se dizia morador de rua, foi novamente encaminhado à cadeia pública sem direito de habeas corpus frente à prisão infundada e ilegal que fora submetido.
O que aconteceu com Zé Pra Alguma Coisa é coisa rotineira que ocorre com tantos outros como ele, que sem educação, dinheiro e status são vitimas sumária de um processo judicial que não está imune aos vícios, preconceitos e injustiças da sociedade classista. Ingênuo, o mesmo saiu rindo da audiência e provavelmente, se agora solto estiver, provavelmente não fará nada para sanar o dano moral que fora submetido. Estar solto é lucro para ele e culpado ou inocente, provavelmente voltará ao xadrez cedo ou tarde.  Isto é a crônica do Zé do Povo da Basileia. Inocente até que se prove o contrário, prescreve a lei, mas na sociedade de castas, isto com certeza não prevalece para o Zé do Povo. Lá as leis são feitas pelos proprietários do feudo, a terminologia é obscura para o povão semianalfabeto e os operadores do direito em sua maioria são crentes que estão fazendo justiça. Numa sala fechada, climatizada, o Promotor de Justiça representando o Estado acusa veementemente, o Defensor Público (servidor do Estado) defende o pobre que não pode bancar um advogado particular e o Juiz baseado em provas que estão nos autos, sentencia. Todos eles, abarrotados de processos, são conscientes de que se julgarem com qualidade, a pilha de processos que chegam às suas mesas cotidianamente só se multiplicarão, haja vista a escassez de profissionais em suas respectivas áreas na Basileia.
Eu sou do povo, eu sou um Zé Ninguém, aqui embaixo as leis são... Eu não sou ministro, eu não sou magnata.

TV terror

Por Claudio Pereira


Com exceção de umas duas ou três matérias com alguma conotação crítica, tipo a que foi veiculada recentemente num fantasioso programa dominical sobre a educação brasileira, se você sintonizar qualquer um dos grandes canais que monopolizam a programação de TV aberta no Brasil provavelmente verá baixaria no programa A, violência no B, músicas toscas no X, futebol no Y, notícias sobre o caos infraestrutural urbano de uma dada cidade no M e falso otimismo no N. E os mais afortunados seriam uma exceção à regra? Se você disser que sim, posso afirmar que os mesmos podem assinar uma TV a cabo dos mesmos grupos que controlam a TV aberta e potencializar a alienação. E a internet? Se tivéssemos um povo com senso crítico e preparado educacionalmente, talvez a massa fizesse bom uso da mesma e não se limitaria a potencializar a ignorância via rede mundial de computadores. Observe que os campeões de popularidade na internet são praticamente os mesmos da TV aberta.
Quando o senso comum cairá na real e entenderá que o golpe de estado de 1964 foi uma contrarrevolução articulada pela burguesia nacional com apoio das potências capitalistas, sobretudo os EUA (não passava nem pelos piores pesadelos dos fascistas de Washington a formação de uma imensa Cuba no sul da América) para frear uma revolução socialista em marcha neste país? E que os políticos e grupos econômicos que se intitulam democratas hoje são praticamente os mesmos da era militar? Ora, neste grupo só saíram de cena os militares após garantir o status quo e assegurar a manutenção do estado burguês.
É revoltante viver em um país onde os meios de comunicação são controlados pelos mesmos indivíduos que financiaram e apoiaram a ditadura.
A mídia brasileira jamais perdeu seu caráter reacionário e hoje há quem diga que ela é um quarto poder. Isto pode ser percebido no poder que ela exerce sobre leitores e telespectadores, fazendo julgamentos de valores sumários, pagando salários milionários a jornalistas que são a encarnação pura do conservadorismo, manipulando informações, veiculando a geopolítica do ponto de vista estadunidense, limitando o acesso de artistas, exaltando os valores puramente materialistas da burguesia, massacrando cotidianamente os valores dos trabalhadores e divulgando matérias com caráter meramente político.  É claro que para que isto funcione é necessária a cumplicidade governamental e manutenção da ignorância generalizada das massas, sendo o sistema educacional o principal alvo e vítima em face do seu potencial transformador no plano intelectual. Steve Bibo disse certa vez que a maior arma do opressor é a mente do oprimido.
Onde quero chegar?
Resolvi escrever este texto após a veiculação de uma matéria jornalística onde foram expostas as mazelas educacionais dos estados do Maranhão, Alagoas e Pernambuco. Minha pergunta é: e os outros estados da federação? Será que a mídia está realmente preocupada com tais mazelas? Acredito que não, pois a veiculação de tais matérias engavetadas quase sempre tem caráter político, além de garantir a aparência democrática da mídia reacionária frente à massa crédula.
Geralmente o mesmo jornal que de vez em quando veicula alguma matéria intitulada como furo de reportagem é o mesmo que se posiciona abertamente contra os professores quando estes entram em greve. É só o trabalhador reagir aos desmandos do estado burguês que a máscara cai. Uma coisa é certa, muitos jornalistas são ótimos atores e fazem a massa rir, chorar, se comover, se conformar, convenientemente.

“A velha educação saturada de espírito de classe fingia dar educação em par de igualdades para camponeses, operários e burgueses, quando na verdade favorecia os indivíduos mais ricos da sociedade.”
(Lenin, in Tarefas Revolucionárias da Juventude, p. 12).
Com base na citação de Lenin pergunto: essa é a educação que queremos? Uma educação saturada de espirito de classe no qual a maioria é educada para servir uma minoria que é educada para mandar, perpetuando assim a sociedade de classes, a corrupção e os privilégios?
Já que a mídia burguesa está tão preocupada com a educação dos pobres, porque não substitui os programas imbecilizantes que veicula de domingo a domingo por programas de caráter educacional, intelectual e debates com quem realmente entende de educação, entre outros? Existem ótimos filmes e documentários brasileiros que abordam temas diversos com teor crítico e intelectual, mas jamais os vi serem exibidos em algum meio de comunicação de massa. Cadê a música decente nos programas dominicais? A ostentação, o arrivismo e o voyeurismo estão ganhando de goleada da decência e da intelectualidade. O documentário Pro dia Nascer Feliz seria uma boa indicação para ser exibido no domingo no “horário nobre”. Segundo o mesmo, em 2006, havia 162.000 escolas no Brasil das quais 129.000 não tinham internet; 25.000 não tinham eletricidade; 40.000 não tinham biblioteca e 10.000 não tinham banheiro.
Duvido que isto tenha mudado? Em um documentário mais recente: Estudo de caso sobre a hidrelétrica do Xingu, uma professora faz enorme esforço para ministrar aula para quatro turmas das séries iniciais num galpão desprovido de infraestrutura na zona rural de Tucuruí. Mas sabem o que estão dizendo certos educadores paraenses após o escândalo da educação nordestina divulgada na TV? _ E nós aqui reclamando de barriga cheia! No Pará 80 mil pessoas sequer tem registro de nascimento, ou seja, não existem para o Estado.
Tocar nos verdadeiros problemas causadores do caos educacional neste país não interessa, pois se a burguesia ir além de suas poucas matérias tendenciosas, pode entregar nas mãos do povo a chave das algemas que o prende, o que provocaria uma reviravolta no sistema corrupto em que estamos inseridos.
É na TV educativa “que não se sabe por qual motivo” o governo não torna universal o sinal da mesma que se encontra uma programação mais coerente e em consonância com o que prescreve a Constituição da República em seu capítulo V: da Comunicação Social.

terça-feira, 4 de março de 2014

O silêncio dos indecentes

         Por Claudio Pereira
 
Cuba, Coreia do Norte, Venezuela são alvos constantes de ataques caluniosos e sistemáticos da mídia burguesa planetária. Em nome do status quo, do conservadorismo e da contrarrevolução, fatos são forjados, reportagens são montadas, estatísticas são falseadas, golpes de estado são planejados, passeatas são financiadas, verdades são distorcidas e acontecimentos são omitidos. Ampla defesa é um princípio subjugado pela mídia burguesa. Na Islândia, pequeno país nórdico insular da Europa, os movimentos contra as políticas neoliberais se acirraram desde 2008. Políticos foram depostos pelo povo, magnatas do setor financeiro presos e bancos nacionalizados. Porque silenciaram a questão islandesa?  A Islândia tem população estimada de 319 mil habitantes e uma área de 103. 000 km². Será por isso que a mídia não deu ênfase aos acontecimentos naquela ilha? Com certeza não, artimanhas e estratégias mesquinhas fazem parte da mediocridade fascista para manter a “opinião pública” alienada, sendo a desinformação uma das armas mais preciosas. A mídia burguesa é conveniente e servil aos interesses do capital. Como explicar movimentos de caráter popular ou revolucionários em países que são apresentados constantemente como exemplos de sucesso e alto padrão de desenvolvimento socioeconômico no âmbito capitalista?
E por aqui?
Hoje ao ligar a TV, no canal A só se falava de carnaval, no B de violência, no X rolava músicas toscas e no Y só futebol.  Coisas do Brasil! Se de um lado o carnaval é a sina, do outro há a fome total. Fome de alimentos, de segurança pública, de virtude, de justiça, de dignidade, de educação etc. Para que não nos esqueçamos, imbecis que em nada contribui para o desenvolvimento socioeducativo da “nação” tiveram seus nomes pronunciados exaustivamente. Como a estória não acaba como a do conto de fadas (Cinderela), na quinta-feira, os burgueses estarão mais ricos e os pobres mais pobres. Quem vai pagar a conta? Quem vai limpar a sujeira? É Mané, a festa acabou, o dinheiro também! A felicidade moribunda cai a máscara. Os trabalhadores da limpeza pública do Rio de Janeiro, por exemplo, desamparados pelo judiciário já deflagraram uma greve e o tom ameaçador do patrão de demitir os grevistas denota o que realmente é o cotidiano do trabalhador assalariado deste país fora do pão e circo: jornada de trabalho exaustiva, salários baixos e injustiça generalizada.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Venezuela a caminho de um golpe de estado

 Claudio Pereira


O que está acontecendo na Venezuela é prova cabal de que socialismo reformista não dá resultado e nem futuro. É ingenuidade crer que a burguesia que tanto massacra o povo vai abrir mão da exploração. Por mais que Nicolás Maduro faça concessão à burguesia capitalista, a mesma o golpeará agora ou depois. Não tem como conciliar interesses antagônicos de lobos famintos e ovelhas. Os burgueses tem o controle do poder econômico na Venezuela, desta forma podem promover a sabotagem mesquinha que pode colocar parcelas ignorantes da sociedade contra o governo bolivariano.
Será que Maduro resistirá ao golpe que está sendo orquestrado a partir de Washington e a burguesia fantoche venezuelana? Que atitude será tomada por ele? Mobilizar a massa de trabalhadores conscientes é a saída. Chaves fez isto e superou o golpe de 2002 e, pelo menos na Venezuela, o imperialismo estadunidense não é tão intenso como na maioria dos países latino-americanos.
Mas quem é Leopoldo López?  Provavelmente um almofadinha fantoche fabricado em Harvard e enviado de Washington com a missão de desestabilizar o governo de pretensão socialista de Nicolás Maduro. Não é que a Venezuela seja exemplo de modelo socialista, acontece que a burguesia vai parar na UTI toda vez que algum governo espirra socialismo.
Por aqui o governo servil ao neoliberalismo já anunciou que os cortes do orçamento público deste ano afetarão os concursos públicos federais que terão menos vagas. O que já não era bom ficará pior: serviços públicos mais precários. Provavelmente é isto que López quer para o povo venezuelano. Já antevejo o que será dito durante o resto do ano pelos mesmos jornais que aplaudiram essa medida de austeridade do governo brasileiro: faltam serviços públicos de qualidade, educação, saúde, segurança pública, estradas...
A crise do capitalismo se acirra pelo mundo: concentração de renda, violência, guerras etc. Na Venezuela a burguesia “foi” as ruas, na Ucrânia, trabalhadores oscilam entre a cruz e a espada ou entre a boca do leão (Rússia) e a boca da onça (União Europeia), no Iraque os interesses do imperialismo norte americano se traduz na violência do seu exército contra o povo iraquiano. Para fingir que tal crise não existe a burguesia investe massivamente na alienação das massas.
 Assistam ao documentário: A Revolução não Será Televisionada. O mesmo é sobre o fracassado golpe de estado orquestrado contra Hugo Chaves em 2002.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Que viés ou fórmula faz o trabalhador achar normal e aceitar a sociedade estratificada em classes sociais, senão a ignorância?

         Por Claudio Pereira
 
Começo este ensaio com uma citação retirada do livro A Rebelião das Massas do filósofo espanhol Ortega y Gasset.
 “O homem alienado a que alude Fromm, é o homem massa, de personalidade evanescence, guloso de noticiários de crimes e escândalos, faminto de técnica, não de ciência, atulhado de pseudos-ideias, das quais não criou nenhuma e a todas assimilou mal, robô condicionado para bagatelas, submissão ou violência, “sem vida interior”, vazio de sua própria história. Está sempre em disponibilidade para fingir ser qualquer coisa. Tem só apetites, crê que só têm direitos e não crê que tem obrigações, é o homem sem nobreza que obriga, sine nobilitate, que os ingleses abreviaram de snob.”
(Ortega y Gasset – La Rebelion de Las Massas, p. 28).
Há uma frase de Sócrates que diz: o maior bem é a sabedoria, o pior mal a ignorância. Uma missão diária da burguesia, sem dúvida, é alimentar a ignorância do povo por todos os meios possíveis e necessários. O mito da caverna e a política do pão e circo tomaram nova roupagem na moderna sociedade burguesa, entretanto preservaram a essência: escuridão intelectual da maioria das pessoas, incapazes de refletirem filosoficamente sobre sua condição de vida ou sobre a incongruência e legitimidade da sociedade de classes.
Vivemos em um sistema socioeconômico onde a servidão é cultuada em todas as instituições e o operariado foi sentenciado sumariamente a viver na ignorância, idolatrar mitos, servir e produzir bens de consumo incessantemente.
Desde que o ser humano passou a acumular excedentes da produção agrícola apareceram larápios espertalhões que com o tempo passaram a se apoderar do que sobrava da produção. Os mitos foram reforçados, instituições foram criadas, a educação, as leis e a produção foram monopolizadas, surgiu o Estado. Estavam formadas as bases para a legitimação da sociedade de classes que consolidou através dos tempos o domínio de uma minoria cada vez mais rica sobre a maioria dos trabalhadores pobres. Mas a história desta dominação não se fez ou se faz passivamente, de vez em quando, o criado foge do controle do seu senhor. Como bem explicou Karl Marx logo no início do Manifesto Comunista, a história de todas as sociedades é a história da luta de classes, plebeus contra patrícios, vassalo contra senhor feudal, proletariado contra burguesia. Essa luta hora se deu ou se dá de forma camuflada ou em certo momento de forma aberta. As revoluções Russa e Cubana são exemplos salutares que tiveram por meta por fim a nefasta sociedade classista. Sabemos que o modelo soviético se desviou da ideia original e o cubano resiste à pressão articulada do imperialismo contra aquela pequena ilha, seja através de embargo econômico, seja por invasões armadas, campanhas difamatória, caluniosas, injuriosas e isolamento daquela brava ilha do Caribe, que apesar disto, apresenta IDH semelhante aos das ilhas de excelência criadas pelo capital para iludir o pobre proletariado de que o capitalismo é viável.
“Quando eu corria e vivia na cidade, eu tinha de tudo, tudo ao meu redor, mas tudo que eu sentia era que algo me faltava e a noite eu acordava banhado de suor”.
(Trecho da música infinita highway – Engenheiros do Hawaii).
Nas cidades capitalistas há um movimento escondido que não é percebido pela maioria dos trabalhadores. Alienado, o trabalhador urbano circula dias e noites em meio a construções e produção industrial frutos do seu trabalho, mas do qual pouco usufrui. Assim como no Egito antigo, o trabalhador moderno ergue construções gigantescas que quando são concluídas viram reduto da ostentação do luxo e da cultura burguesa.  Correndo contra o tempo (tempo é dinheiro) e lutando cotidianamente pela sobrevivência, não há espaço no contexto para a reflexão e a contemplação de sua obra.
“Mas ele desconhecia esse fato extraordinário: que o operário faz a coisa e a coisa faz operário”.
De repente, o operário constatou que ele, um humilde operário, era responsável pelos objetos que estavam em sua mesa e, tomado de uma súbita emoção, percebe que era ele quem construía tudo o que existia: casa, cidade, nação!“.
(O Operário em Construção: Vinícius de Moraes).
O proletariado de B a E está cada dia mais insensível e embrutecido pelo capitalismo e a indiferença com suas próprias mazelas e misérias não mais o indigna. Destituído do processo de evolução intelectual, cultural e educacional, a maioria dos trabalhadores se diverte com programação e música tosca, com violência. Briga por coisas fúteis e cruza os braços quando realmente é preciso agir. Viaja quilômetros atrás do seu time do coração, mas não move uma palha quando é realmente preciso. Outro dia, quando os professores da rede estadual do Pará entraram em greve, ouvia-se muitos incautos dizer: Esses professores não querem é trabalhar! Aliás, são nos momentos de greve que algo absurdo ocorre: trabalhador fica contra trabalhador. Os professores da rede estadual do Pará cansados de esperar pelo judiciário inoperante frente às arbitrariedades do governo no que tange os direitos conquistados pela classe e também pelo péssimo estado infraestrutural das escolas da rede estadual, deflagraram uma greve que durou quase dois meses. Como é de práxis nestas situações, a polícia apareceu e agiu de forma truculenta contra os professores que ocuparam o sucateado prédio da Seduc em Belém. Essa mesma polícia foi recentemente afetada por um decreto do governo do Pará que atingiu todos os servidores estaduais. O governo, alegando que o estado perdeu 500 milhões por causa da redução do IPI e também diminuição no repasse do FPE, cortou uma série de gratificações dos salários dos servidores estaduais, segundo ele, para cumprir o que determinada a Lei do Prato Seco, ôpa!, Lei de Responsabilidade Fiscal.
Policia contra professor, Juiz do Trabalho contra trabalhador, imprensa contra telespectador, cultura de massa contra cultura popular, médico contra paciente, vendedor contra consumidor, dogma contra a verdade, riqueza contra miséria etc. É a famigerada luta de classes que se dá em duas frentes de combate: a primeira, os burgueses contra o proletariado dispostos a fazer qualquer coisa para assegurar seus interesses e privilégios; do outro, infelizmente, algo que se repete há séculos e é de grande utilidade para a manutenção do status quo: trabalhadores contra trabalhadores.
Sedento de ideias, estressado e faminto, o trabalhador até percebe e sente que é explorado, mas é incapaz de se articular e reagir ou enxergar que ele é quem produz a riqueza e que existem formas de organização socioeconômica onde o bem-comum prevalece sobre formas mesquinhas e privadas de organização da sociedade que só agravam os problemas sociais mundo a fora.
Mas a luta não está perdida, sabemos que existem trabalhadores com senso crítico e discernimento e movimentos sociais que plantam e semeiam ideias libertárias a favor de quem realmente constrói as coisas do mundo: o proletariado.
Que se dê ao povo o que é do povo e tirai do caminho o parasita: o capitalista, o pensamento burguês.
Reitero: que viés ou fórmula faz o trabalhador achar normal e aceitar a sociedade estratificada em classes sociais, senão a ignorância?
Dicas: para maior lucidez sobre o que expressamos em palavras assista o documentário A Servidão Moderna. O mesmo pode ser baixado via internet.
Claudio Pereira é licenciado em Geografia pela UEMA, Bacharel em Direito pela UFPA, professor da rede estadual do Pará, desenhista e cartunista.