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sábado, 31 de agosto de 2013

Eu não tenho nada haver com isso!

Por Claudio Pereira

O que há de semelhança e diferença entre um jornalista reacionário e um homem bobo incapaz de posicionar-se ideologicamente? O primeiro serve seus senhores por dinheiro. É o que denomino de mentes prostituídas. O segundo vive na caverna, condenado a seguir o destino que lhe é ditado pelos oráculos “modernos”.
A receita é velha, mas funciona: músculos fortes, mente fraca. Pão e circo. É preciso distrair a massa.
Os jornalistas do oligopólio que domina a mídia no país geralmente passaram por grandes universidades burguesas, alguns estudaram em Harvard, outros na Sorbone, falam vários idiomas, leem Shekespeare, Maquiavel, gostam de música clássica, viajam o mundo de norte a sul, de leste a oeste; já o Zé Povão está submetido a um sistema de ensino dosado. A maioria sequer conclui o ensino fundamental e um número muito restrito consegue chegar a uma universidade. O salário que recebe não cobre as necessidades básicas da maioria. Vai para o trabalho em transporte coletivo caro e precário. Mora em periferias sem infraestrutura que inclusive dão grande audiência cotidianamente e reiteradamente para os jornais dos seus senhores. Mesmo recebendo conceções públicas ou isenções fiscais por algum projeto demagógico de filantropia que desenvolvem, os grandes meios de comunicação devem bilhões de impostos sonegados para o governo federal. Porque se preocupar em pagar se o governo são eles próprios ou quando não o são é um fantoche qualquer? Os ministros do supremo deviam agir com a mesma ou mais rigidez quanto a isto, já que as cifras são bem superiores às do mensalão. O Zé Povão por sua vez, está submetido a uma enorme carga tributária, paga muito e recebe pouco. Como estão as escolas? Funcionando precariamente. Como estão os salários? De acordo com o DIEESE, para satisfazer o que está prescrito da Constituição Federal, o salário mínimo era pra ser de 2.800,00 reais. Segundo as contas do governo, quem ganha isto por mês, dependendo da quantidade de indivíduos na família, pertence à classe média alta. E a saúde? Faltam profissionais diversos, inclusive importar médicos está sendo a válvula de escape para o país, ainda faltam leitos, investimentos e sobram filas. E o transporte? Estradas privatizadas, outras precárias, ruas esburacadas, motoristas endividados, estressados, apressados (tempo é dinheiro), mal educados etc. E a segurança pública? O Estado só mostra força quando é pra reprimir trabalhador. Trabalhador consciente faz greve, logo vêm pra cima dele jornalistas, juízes de Direito, a polícia, ignorantes etc. E a cultura? Música tosta, despida de senso crítico e pudor, cinema hollywoodiano de péssima qualidade exaltando o consumo e os valores dos ianques entre outros instrumentos de alienação.
Ontem, alunos do município de Eldorado dos Carajás interditaram a PA-275 e o Zé Povão entediado com as filas que se formaram na rodovia deu demonstrações de falta de consciência crítica ou política. O que se ouvia era: eu não tenho nada haver com isso! Eu não sou contra o protesto, desde que seja pacífico! Se perguntar se ele já participou de alguma passeata pacífica alguma vez na vida, provavelmente responderá que não.  
O Pará tem uma das piores malhas viárias do Brasil. Para onde vai o dinheiro do IPVA, ISS? Os filhos desses indivíduos não vão à escola? Trabalhador contra trabalhador é o tudo que governos corruptos e capitalistas desejam.
Caro leitor, impedir o tráfego em ruas e rodovias está sendo o último recurso de estudantes e trabalhadores, pois o Direito positivo está aí para manter o status quo. Não se faz revolução com Direito normativo. Passeatas e manifestações por melhores condições de vida são o Direito achado e que surge nas ruas.
No Brasil o povo pode ocupar avenidas e rodovias por longas horas sem ser incomodado pela polícia ou pela mídia desde que seja para farrear. Em dia de cavalgada Brasil a fora, se pode dirigir embriagado com um litro de cachaça na mão em rodovias estaduais e federais, as autoridades não incomodam em tais circunstâncias. É o indulto, o dia da graça. Neste contexto o Zé Povão aceita.
Ontem houve uma paralização nacional organizada pelas centrais sindicais. A reação por parte da mídia reacionária já era de se esperar. Das falas que observei, a mais contundente foi a de um jornalista que disse: quando as centrais sindicais irão entender que a minoria não pode ir contra a maioria? E que do lado da maioria estão trabalhadores também. Isto não diz nada, pois está contra não significa que do outro lado está as mil maravilhas. Não são esses sofistas que gostam de parafrasear Nelson Rodrigues dizendo que “toda unanimidade é burra”. Não vou submeter esta frase a uma análise filosófica neste momento, mas a mesma cabe no poema.
Do outro lado, com certeza, estão trabalhadores que sofrem igual ou até mais dos que estão na luta, mas que por ignorância ou medo, preferem a submissão e se posicionar do lado de quem os explora. Todas as receitas e “conselhos” para superar a dificuldade são dados pelos seus senhores.
Se você é dos que acha que não tem nada haver com isso, saiba que você está dentro disso.  Reflita. Como disse Sócrates: uma vida não avaliada não vale ser vivida.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Aos filhos da realeza


A música a seguir é da banda inglesa Sex Pistols. Em 1977 a mesma chegou ao  topo das paradas britânicas e pela primeira vez na história o primeiro lugar das paradas musicais ficou sob uma tarja preta. As pessoas chegavam nas lojas para comprar o LP que continha tal música e logo alguém respondia: não vendemos este tipo de disco aqui. Adivinha por quê? No mesmo período vivia-se uma ferrenha ditadura na América Latina, lá a degeneração da democracia: a demagogia. O liberalismo em sua nova roupagem (o neoliberalismo) ganha força com a primeira ministra: a dama de ferro Margaret Thatcher. O desemprego chega a índices alarmantes entre os jovens que ao terminar a escola básica não tinham muito a fazer. Mal compreendido por muitos, assim como o anarquismo, o movimento punk, o punk rock serviam de válvula de escape para parte daquela geração que negava  os valores da burguesia e da realeza ou ainda aceitar os empregos robóticos destinados para os filhos do proletariado.
A Inglaterra é uma monarquia constitucional que tem como chefe de governo o primeiro ministro, cargo que atualmente é presidido por David Cameron. A rainha é chefe de Estado, ou seja, não apita muita coisa. Mas a burguesia sabe faturar com o que restou da velha monarquia.
1. God Save The Queen   
                                                           
God save the queen / Her fascist regime / It made you a moron / A potential H bomb /  God save the queen / She ain't no human being / There is no future / In England's dreaming / Don't be told what /you want / Don't be told what you need / There's no future / No future, no future for you / God save the queen / We mean it man / We love our queen / God saves / God save the queen /' cos tourists are Money / And our figurehead / Is not what she seems / Oh God save history / God save your mad /parade /Oh lord God have mercy / All crimes are paid / When there's no future / How can there be sin / We're the flowers  / In the dustbin / We're the poison / In your human machine  / We're the future / Your future / God save the queen / We mean it man / We love our queen / God saves / God save the queen / We mean it man / There is no future / In England's dreaming / No future, no future / No future for you / No future, no future / No future for me / No future, no future / No future for you / No future, no future / No future for You!

Tradução: Deus Salve a Rainha
 
Deus salve a rainha / Seu regime fascista / Fez de você um retardado / Bomba-H em potencial / Deus salve a rainha / Ela não é um ser humano / Não há futuro / Nos sonhos da Inglaterra / Não diga o que você quer / Não diga o que você precisa / Não há futuro / Sem futuro, sem futuro para você / Deus salve a rainha / Nós queremos isso, cara / Nós amamos nossa rainha / Deus a salve
/ Deus salve a rainha / Porque turistas são dinheiro / E nossa representante / Não é o que parece
/ Oh Deus salve a história / Deus salve sua louca parada / Oh senhor Deus tenha piedade / De todos os crimes pagos / Quando não há futuro / Como pode haver pecado / Nós somos as flores / Na lixeira / Nós somos o veneno / Em sua máquina humana / Nós somos o futuro / Seu futuro
/ Deus salve a rainha / Nós queremos isso, cara / Nós amamos nossa rainha / Deus salve / Deus salve a rainha / Nós queremos isso, cara / Não há futuro / Nos sonhos da Inglaterra / Sem futuro, sem futuro / Sem futuro para você / Sem futuro, sem futuro / Sem futuro para mim / Sem futuro, sem futuro / Sem futuro para você / Sem futuro,sem futuro / Sem futuro para você!

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Mediocridade


Por Claudio Pereira

A contratação de médicos estrangeiros pelo governo brasileiro é prova cabal da mediocridade oferecida ao povo pelo sistema neoliberal no campo da saúde, área que o Brasil nunca foi exemplo. Neste sistema caro leitor, se queres serviços com mais qualidade, pague dobrado! Há, além disto, três problemas endêmicos no país: 1) a falta de universidades e falta de interesse do governo em abrir faculdades de medicina (quimera universidade fosse equiparada a estádios e professores tratados como estrelas do futebol); 2) O conservadorismo “elitista” presente na cabeça de muitos formandos no curso de medicina (tempo é dinheiro, pouca concorrência também). Capitalista que se prese não quer povo saudável. As péssimas condições das escolas públicas (falta de professores, de prédios, livros, greves periódicas por melhores condições de trabalho e salários etc.) mina ao longo dos anos a capacidade da maioria dos alunos de disputar em par de igualdade as parcas vagas dos cursos de medicina das poucas universidades públicas brasileiras, ocupadas majoritariamente por alunos oriundos da rede privada ou melhor, de certas escolas privadas com mais qualidade de ensino; os alunos das classes A e B (não a fantasiosa classe média do PT) se não conseguem entrar na universidade pública, podem pagar até 6.300,00 reais por um curso particular. Muitos se formam as coxas. Isto é o que aponta os resultados no exame do Cremesp - Conselho de Medicina de São Paulo em 2012, onde 54,5% dos alunos que se formaram em faculdades paulistas foram reprovados no exame, mas não há obrigatoriedade de passar no exame para conseguir o registro no conselho de medicina. O enade é outro termômetro que mostra o péssimo desempenho dos estudantes de medicina do país. 1 e 2 são notas rotineiras da maioria das faculdades de medicina. Como não precisam do revalida, muitos formados no qual a família tem patrimônio elevado, fazem suntuosos prédios onde montam suas clinicas aparentemente boas. Para a maioria dos alunos da rede pública, desprovidos de recursos, resta apelar para o funil do neoliberal PROUNI ou ainda ao contraditório FIES que é arrecadado em grande parte das apostas realizadas em jogos lotéricos. Questionar a qualidade dos médicos estrangeiros (pra não dizer cubanos) é menos válido e antagônico, sobretudo em um país com um dos piores sistemas de saúde do mundo: o Brasil. Os Conselhos de Medicina proliferam discursos contraditórios: ao passo que duvidam da qualidade dos médicos estrangeiros, reconhecerem a péssima formação da maioria dos médicos brasileiros; 3) A famigerada xenofobia tão conhecida de brasileiros que tentam fazer a vida nos países capitalistas mais desenvolvidos agora se manifesta aqui nas passeatas e discursos reacionários contra os médicos estrangeiros. A mediocridade de formação social em certos cursos não é de se estranhar dentro da universidade, pois a mesma, desde sua criação nunca foi exemplo de inclusão. Salvo exceção de alguns livres-pensadores, a maioria dos formados em universidades públicas ou privadas são despolitizados e alienados, prontos para servir a estrutura sem questionar.
Para encerar esse pequeno ensaio, aconselharia os reacionários e os desinformados de plantão a fazerem uma analise comparativa do IDH e os indicadores de saúde cubano e brasileiro. Faço um alerta: informe-se com dados da OMS e até da ONU, pois há revistas reacionárias que distorcem os dados sem o mínimo escrúpulo.
Claudio Pereira é cartunista, geógrafo, professor da rede estadual e bacharel em Direito pela UFPA.

Serra Pelada na mira da sanha do capital internacional que mina as riquezas naturais do Pará e deixa como legado a poluição, pobreza e migalhas.


                                        Foto: Sebastião Salgado
Por Claudio Pereira

No início dos anos 80, o garimpo de Serra Pelada simbolizava esperança de riqueza para milhares de brasileiros que se deslocavam para lá de diversos lugares do Brasil, além de proporcionar a imigração para a área do Programa Grande Carajás, algo que há anos era intento do governo estadual e federal. Poucos conseguiram fortunas, mas a maioria dos trabalhadores permaneceu na pobreza e muitos ainda sonham com o eldorado. Em 1990, o garimpo foi fechado e de lá para cá uma batalha vem sendo travada entre garimpeiros e o grande capital fortemente ajudado pelo governo.
Recentemente houve um violento atrito entre garimpeiros e a policia militar do Estado do Pará. Os garimpeiros insatisfeitos com a postura da Colossus e a forma como está sendo feita a divisão do ouro (51% para a empresa e 49% para a cooperativa), tentaram ocupar a mina de ouro que está sendo construída pela empresa canadense.
O direito de propriedade foi garantido pela força policial, mas fica a pergunta: e o direito dos garimpeiros, cidadãos brasileiros, como fica?
Se depender do governo brasileiro sempre servil aos interesses do capital internacional o status atual provavelmente será mantido: empresa lucrando e garimpeiros sonhando.
As grandes empresas como dizia o renomado geógrafo baiano Milton Santos não tem responsabilidade moral e social, elas desorganizam o território onde se instalam e geram problemas para as populações locais. Isto é evidente, sobretudo na área de abrangência do Programa Grande Carajás no sudeste do Pará. Grandes empresas que geram uma meia dúzia de empregos, no qual poucos desses empregos são remunerados condignamente, são favorecidas por leis facilitam e sacia o lucro das mesmas, que repassam migalhas (se comparados ao lucro das mesmas) para as prefeituras e o Estado. A prova disto é Parauapebas que recebeu 427 milhões de reais de compensação financeira por exploração mineral – CFEM em 2012 enquanto no ano de 2011 a Vale teve um lucro liquido de 37,8 bilhões de reais. A lógica é: as empresas ficam com o lucro e os governos com os problemas sociais, ambientais, infraestruturais etc. Quando os desmando dessas empresas são questionados pelos trabalhadores, o Estado brasileiro convoca todo seu aparato bélico e judicial para defendê-las e protege-las. A falácia é de que estas empresas geram desenvolvimento, quando simplesmente pilham as riquezas naturais do Brasil.