Powered By Blogger

sábado, 25 de agosto de 2012

O QUE HÁ POR TRÁZ DE BELO MONTE
Por Claudio Pereira
“Filho pródigo dos projetos megalômanos de infra-estrutura do governo militar, o projeto de implantação do CNE de Belo Monte traz consigo muitas das características dessa época, como a falta de transparência nas informações oficiais. Também não poderia ser diferente para uma obra que inicialmente foi planejada em 1975”¹.
O presente ensaio visa elucidar algumas nuances sobre a construção do complexo de hidrelétricas no rio Xingu e a maneira como este está sendo apresentado para a sociedade paraense.
O que tem sido colocado para a sociedade como um fator de desenvolvimento na verdade, se concretizado como querem seus idealizadores e empreendedores é um problema, pois, advirão problemas ambientais, socioeconômicos e destruição do patrimônio histórico e cultural de muitos povos que vivem há incontáveis gerações na área a ser implantado o projeto. O problema é grave e não obstante de complexa solução, haja vista que as normas vigentes quanto ao processo adequado e racional de implantação de um projeto dessa envergadura não estão sendo cumpridas nem por aqueles que têm o dever de zelar por elas (governos federal, estadual, municípios). Não obstante, o governo é o principal financiador de uma obra que quando estiver pronta atenderá em primeiro plano interesses de grandes empresas do setor minerador. O governo que era pra zelar pelo interesse do bem comum na verdade está a zelar pelos de grandes corporações que não tem compromisso com o desenvolvimento nacional.
Em pleno século XXI é inadmissível que o governo haja de forma ditatorial, como o fora no passado. Agindo desta forma, reproduz simplesmente a modernização conservadora. Isto porque sequer tem se preocupado em consultar a população que será atingida pela construção do complexo de Belo Monte.
Estudos técnicos comprovam que a construção da hidrelétrica de Belo Monte é inviável por razões não só ambientais e sociais, mas também porque a mesma quando entrar em funcionamento, jamais operará integralmente durante o ano, pois será capaz de produzir apenas 25% de seu potencial, isso devido as variações do nível de água do rio Xingu durante as estações do ano.
O governo mente ao colocar para a população a construção de Belo Monte como uma obra isolada, quando na verdade são seis hidrelétricas a serem construídas. Diante disto questiona-se: onde ficam o princípio da publicidade, da proporcionalidade, princípios constitucionais basilares para a Administração Pública, pois como foi dito tal empreendimento padece de clareza e transborda de obscuridade assim como desproporção entre os bilionários gastos que serão aplicados na concretização do mesmo e a falta de eficácia na produção de energia do mesmo.
Empreendimentos desta natureza tem se tornado mais uma das muitas mazelas que assolam a sociedade contemporânea tupiniquim. Estes não provocam somente impactos diretos no local que são feitos, mas impactos indiretos como, por exemplo, o inchaço urbano e o êxodo rural. São numerosos os exemplos. Nos locais onde já foram implantados, as indenizações de propriedades de pessoas que viviam há décadas ou séculos em áreas agrícolas produtivas foram tão irrisórias que muitas sequer conseguiram comprar um barracão nas periferias de cidades, isto agravou dubiamente a questão infraestrutural de cidades precárias e a qualidade de vida dessas pessoas.
A combalida reforma agrária brasileira se agravou ainda mais, pois o número de famílias desabrigadas pela implantação de barragens em todo o Brasil é muito superior ao número de assentamentos realizados pelo governo nas últimas duas décadas.
Empreendimentos realizados desta forma constituem a negação da cidadania e direitos humanos fundamentais dispostos na Constituição Federal, em convenções e tratados internacionais, ferindo os princípios básicos da democracia, da dignidade humana e da harmonia natural da fauna e flora da qual também somos integrantes.
Nos causa desalento saber que em pleno século XXI, a ambição fortaleça o cartesianismo nos colocando (seres humanos) como parte separada da natureza dispostos a utilizá-la a nosso bel prazer.
Um ponto que não devemos deixar de lado é o da matriz energética do Brasil que coloca as hidrelétricas como única opção, como se o desenvolvimento técnico-científico atual fosse igual ao de um século atrás, ou seja, sem condições de oferecer um leque com outras fontes de energia potencialmente melhores e menos degradadoras do meio ambiente.
Natureza é fonte de vida e não de lucro.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
¹VALLE, Raul Silva Telles do. Uma abordagem jurídica das idas e vindas dos projetos de hidrelétricas no Xingu. In SEVÁ FILHO, A. Osvaldo (org.). Tenotã – Mõ. Alerta sobre as consequências dos projetos hidrelétricos no rio Xingu. São Paulo: Internacional River Network. 2005. pp. 63-73 e PONTES JR. Felício e BELTRÃO, Jane. Xingu. Barragens e Nações Indígenas. In idem, pp. 74-90.

OS DIREITOS INDÍGENAS À LUZ DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL
Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.
§ 1º - São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.
§ 2º - As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes.
§ 3º - O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indígenas só podem ser efetivados com autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados da lavra, na forma da lei.
§ 4º - As terras de que trata este artigo são inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas, imprescritíveis.
§ 5º - É vedada a remoção dos grupos indígenas de suas terras, salvo, "ad referendum" do Congresso Nacional, em caso de catástrofe ou epidemia que ponha em risco sua população, ou no interesse da soberania do País, após deliberação do Congresso Nacional, garantido, em qualquer hipótese, o retorno imediato logo que cesse o risco.
§ 6º - São nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os atos que tenham por objeto a ocupação, o domínio e a posse das terras a que se refere este artigo, ou a exploração das riquezas naturais do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes, ressalvado relevante interesse público da União, segundo o que dispuser lei complementar, não gerando a nulidade e a extinção direito a indenização ou a ações contra a União, salvo, na forma da lei, quanto às benfeitorias derivadas da ocupação de boa fé.
§ 7º - Não se aplica às terras indígenas o disposto no art. 174, § 3º e § 4º.
Art. 232. Os índios, suas comunidades e organizações são partes legítimas para ingressar em juízo em defesa de seus direitos e interesses, intervindo o Ministério Público em todos os atos do processo. DO MEIO AMBIENTE
DO MEIO AMBIENTE
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

domingo, 5 de agosto de 2012




Este texto é uma adaptação de outro que fiz há quatro anos quando residia no município de Imperatriz – MA. É no período eleitoral que o descalabro, a queima e a farra com dinheiro público se multiplicam. Tudo parece tão evidente. Vale tudo pra se garantir no poder. O que não vale são as leis, o combalido judiciário, o povo.


Os Et´s estão chegando.
Por Cláudio Pereira





Está aberta a temporada de caça ao eleitor. A partir de agora a população, sobretudo das áreas periféricas de variadas cidades brasileiras, será visitada por seres que vivem nos jardins suspensos da Babilônia e que a cada quatro anos descem para visitar e bajular seus fieis eleitores (súditos patrões). Colocarão suas mascaras, descerão de suas aeronaves e andarão por ruas putrefatas, irão a palafitas sobre riachos poluídos, visitarão obras faraônicas, desfilarão sobre periferias sem a mínima infraestrutura, subirão e descerão calçadas desniveladas, irão sentir o calor do sol forte na pele macia da sombra e do ar condicionado, verão terrenos alagados encestados de mosquitos (provavelmente a venda de repelentes aumentará neste período), abraçarão velhinhas, beijarão crianças descalças, estenderão as mãos ao senhor da esquina e quem sabe até degustarão uma vereda curtida, provavelmente soltarão um sorriso amarelo e sarcástico, daqueles: Nossa! É só um mau momento a superar. Ao lado deles, um aparato de câmeras, flash, microfones e bajuladores de todos os naipes. O circo está armado para passar a rasteira no eleitor.


The same old choice.

A mesmice de sempre, alicerçada por uma mídia comprometida que faz a cabeça do eleitorado pra que vote nos candidatos dos patrões. Os mesmos de tantas eleições, dos mesmos partidos aristocratas que contribuíram diretamente para “construir” espaços geográficos alicerçados na desigualdade e na falta de planejamento.
 Se depender da mídia e do político trapaceiro, creia, oh! Ser votante! Jamais pretenderão encontrar a sua frente aquele ser extraordinário, consciente, pleno conhecedor da república, do mandato de Direito civil ou público, do sufrágio, do escrutínio, da democracia liberal, do parlamentarismo... Nem nos seus piores pesadelos. Pode ter certeza.
Vote eleitor! Eles suplicarão teu voto, recorrerão a baixaria e ao “infalível” assistencialismo, já que são destituídos de argumentos e projetos alguns, senão, o de engordar o próprio bolso. Se vacilar novamente elegendo a velha corja de retrógrados que, a cada quatro anos lembra que você existe, estará contribuindo e muito para tudo de errado que aí está. Depois de enrolá-lo, eles voltarão ao andar de cima e só visitarão você através das antenas, contando mil e uma mentiras pra acalmar tua decepção. Toda hipostasiação fica por conta da nossa “bela” mídia.
Eles foram eleitos para solucionar os problemas da cidade, mas acabarão se tornando mais um entrave. O prefeito passará todo o seu pleito dizendo que não trabalha por causa do gestor passado ou das verbas escassas. Ele comprará vereadores com síndrome de corrupção e fará licitações fraudulentas.
Ridiculizarão você trabalhador, aumentando os próprios salários de forma exorbitante. Trabalharão três dias por semana ou algumas horas por dia. Enquanto a você: já é negado o direito à informalidade.
        Entendeis agora o motivo de uma gente tão corrupta? Você não os colocou lá?
        Dê uma chance a si.  Verás o quanto tens errado historicamente em detrimento não deles, (os parasitas), mas de nós mesmos, Oh, ser que pertence à maioria! Quem leva esta “nação” para frente?
Outro dia, a mediocridade que impera no mundo que não sonha, cruzou o meu caminho. Alguém disse: se soubesse, teria votado na Roseana. Chegamos a este ponto? Oligarquia ou aristocracia? Lula ou PSDB? Ruim ou péssimo? Bush ou Clinton? Rouba mais faz? Será que somos tão medíocres pra não acharmos uma alternativa? Chega de maniqueísmo.
 As instituições burguesas agem de maneira “onisciente”, onipresente e onipotente nesse período da nossa história com todo seu nefasto aparato ideológico. O caminho que ela nos oferece é o da subserviência, com certeza. Mas se percebermos a infame ideologia, abriremos a construção para uma sociedade autogestionária livre de hedonistas que só pensam numa coisa: perpetuarem seu poder político e econômico dentro da lógica capitalista. 

Cláudio Pereira dos Santos é Geógrafo graduado pela Universidade Estadual do Maranhão, estudante de Direito da UFPA, professor e cartunista.