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domingo, 18 de maio de 2014

Os gladiadores modernos

Por Claudio Pereira
 
Por que certas personalidades, seja do mundo artístico, seja do meio futebolístico são exaltadas exaustivamente e reiteradamente cotidianamente?
Homens que majoritariamente tem um histórico de escravidão econômica e que escaparam da mesma por meio do funil do bilionário mercado esportivo vão se digladiar em modernas arenas feitas à custa do suor e sacrifício socioeconômico de milhões de pessoas. A massa, assim como no Império Romano, será distraída dos reais interesses da mesma (educação libertadora e de qualidade, saúde, trabalho digno, socialização da riqueza que ela mesma produz, moradia de qualidade e cidades com espaços de prática esportiva e culturais para todos e sem alienação). As grandes corporações capitalistas (esportivas ou não) faturarão alto. O governo corrupto também se beneficiará, pois às vésperas de um processo eleitoral, a massa que tem a incumbência de legitimar o poder de candidatos compromissados com os interesses da burguesia capitalista será esquecido de vez pela maioria.
Críticas poderão advir, pelo menos por parte de uma minoria de indivíduos com senso crítico. Vaias simplórias e antagônicas como as que ocorreram na copa das confederações poderão ocorrer novamente contra a presidenta se ela for aos estádios, ora, os grupos que trabalham no processo de alienação da massa cotidianamente, estão através de seus canais de comunicação com o povão, em certos momentos, utilizando o mesmo discurso de moralidade que as pessoas de boa índole e senso crítico fazem contra os gastos da copa, mas contrariamente a pretensão destes últimos, tais sofistas querem apenas promover grupos políticos plenamente confiáveis aos seus interesses e que “trabalhem” para manter o status quo socioeconômico do país. Mané de Viola que se contenta com a aparência dos discursos moralistas falaciosos da burguesia e sem compreensão do processo ideológico se equivoca reiteradamente e é apenas massa de manobra nas mãos da burguesia.
A prática esportiva é de suma importância para a saúde e bem-estar do ser humano, o problema é que as classes que se alternaram no comando e exploração da humanidade ao longo dos séculos, sempre utilizaram o esporte como instrumento de alienação e comércio lucrativo para as mesmas. No Império Romano, gladiador vencedor era sinônimo de portal para a liberdade. Em países como o Brasil, onde a maioria da população vive em estado de pobreza crônica, o futebol acaba sendo a única possibilidade de meninos pobres se libertarem da escravidão econômica. Poucos conseguem tal façanha, a maioria continuará a viver em áreas precárias, sem escolas dignas, pratica esportiva limitada, salários baixíssimos, acompanhando os grandes eventos esportivos pela TV ou assistindo programas e ouvindo músicas com nenhum teor crítico ou intelectual. Se dentro da precariedade, vacilarem e caírem no submundo do crime, serão sugados para os calabouços modernos destinados aos pobres infratores. Já os pouquíssimos que se dão bem no concorrido mercado esportivo se tornam referência e exemplo a ser seguido pela massa espoliada. Sem senso crítico, o gladiador moderno, ostentando luxo, dinheiro, carrões, louras cinematográficas, não se dá conta que é apenas uma marionete com um único objetivo: distrair a massa, além de fomentar o consumo das grandes marcas que financiam os mesmos.
A roupagem do pão e circo mudou, mas a essência continua sendo a mesma de milhares de anos atrás. É flagrante a projeção enfadonha da imagem de indivíduos toscos dia e noite em todos os meios de comunicação de massa deste país. Fomentar paixões, criar mitos e fazer arenas suntuosas é mais útil para a burguesia do que construir escolas de qualidade e democrática para a massa, onde os profissionais da educação tenham direitos plenos, dignidade, qualificação e respeito. Não é a toa que quando perguntamos em sala de aula se os alunos querem ser professores, raramente um levanta o braço, pois desde pequenos só escutam coisas negativas sobre o sistema educacional. Pergunte a eles quem é o técnico da seleção que a maioria sabe de có. Pergunte quem é o ministro da educação? A maioria olha ao redor do ambiente em que vivem e raramente acham exemplos em que educação escolar fez diferença para alguém.
Os “sábios” taioistas diziam que não se devia conceder saber ao povo, porque ele desperta desejos, afirmando que ao homem do povo bastariam “músculos sólidos e vontade escassa, estomago satisfeito e coração vazio“. Pergunto: isto é coisa do passado? O senso comum com campo de visão limitado e embasado em poucos exemplos de sucesso acha que sim.