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sábado, 7 de julho de 2012

O mito da pobreza cubana

O mito da pobreza cubana
Há algum tempo, o ex-jogador do flamengo, o sérvio Dejan Petkovic desmentiu ao vivo numa entrevista no programa da Ana Maria Braga muitas das coisas negativas e de cunho ideológico que se fala sobre o socialismo. Durante a entrevista a apresentadora com auxílio de uma “cola” para identificar os países formados a partir da desintegração da antiga Iugoslávia perguntou: _Como era viver num país com tantos problemas?  Petkovic respondeu: _Quando eu nasci não tinha problema nenhum. A gente vivia no socialismo. Todo mundo trabalhava, todo mundo tinha salário. Falou que os problemas vieram depois, nos anos 80. Como a entrevista era ao vivo não teve corte. Com seu conhecimento pífio sobre o socialismo, ela não considerou que Petkovic viveu boa parte de sua vida dentro de uma estrutura socioeconômica e política mais democrática, com qualidade evoluída se comparada com a que vivem e viveram a maior parte dos jogadores de futebol profissional do Brasil.
E agora burgueses? Como explicar que aquilo lá não era o inferno que vocês pintavam?
Quanto a Cuba? Como defender esse país que é massacrado unilateralmente no campo ideológico, político e econômico pela burguesia mundial?
Não é tarefa tão complexa como se pensa. É mais fácil do que prevê que político corrupto não vai para a cadeia.
Para tal intento vou comparar indicadores socioeconômicos cubanos não com os do Haiti ou do Quênia, mas com a de três gigantes da economia capitalista mundial: Estados Unidos, Canadá e Brasil. Feito isto, deixo por conta dos jurados a decisão de quem está com a razão.

PAÍS
IDH
Expectativa de vida
Mortalidade infantil.
Taxa de escolaridade.
PIB nominal
CUBA
0,876
78,3 anos
5,1/mil nasc.
99,8
US$ 51,110 bilhões.
EUA
0,910
78,2 anos
6,3/mil nasc.
99,0%
US$ 15,065 trilhões
CANADA
0,908
80,7 anos
4,8/mil nasc.
99,0%
US$ 1,758 trilhão
BRASIL
0,718
73,5
15,6/mil nasc.
90,4
US$ 2,492 trilhões

Fonte: Wikipédia Enciclopédia Livre
Pelos dados supramencionados observa-se que Cuba é superada em termos de qualidade de vida apenas pelo Canadá. Mesmo assim a taxa de alfabetização do Canadá é menor que a cubana. Já a maior economia da terra: os Estados Unidos, só supera Cuba nos quesitos PIB e IDH. Isto não diz muita coisa, pois, um dos fatores para se obter o IDH é o PIB. O PIB brasileiro, por exemplo, é bem superior ao do Canadá, mas a qualidade de vida da população é bem inferior a do povo cubano. É importante ressaltar que 51% da arrecadação anual de impostos dos Estados Unidos são aplicados em armamentos. Outro fator que não podemos esquecer é que a taxa de alfabetização brasileira engloba uma gama de analfabetos funcionais. No Brasil adotou-se um modelo educacional que demanda forçadamente poucos recursos. Para que isto dê certo é preciso que passe o aluno para frente sem base para cursar a série seguinte. Tempo é dinheiro. Já Cuba, de acordo com os resultados obtidos nos testes de avaliação de estudantes latino-americanos, conduzidos pelo painel da UNESCO, lidera, por larga margem de vantagem, nos resultados obtidos pelas terceiras e quartas séries em matemática e compreensão de linguagem.
O município de São Francisco do Conde na Bahia onde há uma refinaria da Petrobras apresentou em 2009 um PIB per capita de R$ 360 815,83. Em que pese este fato, as condições de vida no município se encontram muito abaixo do esperado. Sua taxa de mortalidade infantil está acima do máximo considerado aceitável pela Organização Mundial da Saúde. Não existe tratamento de esgotos no município e o acesso à água encanada chega para apenas cerca de metade da população.
O problema é que o PIB ao passo que possibilita a elevação do IDH, camufla a concentração de renda, coisa que interessa somente a burguesia. Por que Cuba, mesmo com um PIB muito inferior a de alguns estados brasileiros ostenta IDH compado ao dos países capitalistas industrializados? Por que lá o PIB é distribuido de forma inteligente e não é concentrado nos cofres da burguesia capitalista.
Muitos dos organismos oficiais burgueses reconhecem o desenvolvimento cubano. Entretanto, os burgueses, sem argumentos diante dos elevados indices de educação, saúde e respeito ao meio ambiente do povo cubano, apelam de forma ridicula dizendo que não há liberdade de expressão naquele país. Que os direitos humanos são feridos reiteradamente em Cuba. Do que adianta ter 54% da população com grau superior , ter engenheiros se não há pontes para fazer? A primeira coisa a analizar é que os descontentes internamente (em Cuba) são pertencentes ou simpatizantes dos antigos grupos que perderam privilégios e regalias após a revolução. Quanto aos direitos humanos, o que dizer do embargo econômico promovido pelos Estados Unidos há décadas contra Cuba? Só um povo aguerrido, consciente e educado para superar tal pressão. Cuba não tem carrões de última geração para poucos como no Brasil, entretanto conquitou em 2011 o título de único país com desenvolvimento sustentável do mundo. Os Estados Unidos tem uma população extremamente consumista, no entanto é o país que mais polui o planeta. Voce acredita que da Rio +20 sairá algo positivo quanto a medidas imediatas de proteção ao meio ambiente? Natureza para os “civilizados” países capitalistas é fonte de lucro e não fonte de vida.
Para encerrar este pequeno ensaio, lembro que entre os países americanos, Cuba tem o segundo maior desempenho em olimpiadas. Como explicar a um economista burguês como um país onde o esporte não é bilionário é ao mesmo tempo uma potência olimpica?
Eu admiro o povo cubano pela consciência que eles possuem e o ideal de não deixar retornar o modelo injusto que viviam no passado. Infelizmente isto não ocorreu na Ioguslávia. Se não fosse a revolução socialista, este pequeno país da America Central certamente não desfrutaria dos elevados indices de desenvolvimento humano que possui, seria apenas mais um país latino-americano repleto de corrupção, injustiças, altos indices de analfabetismo, violência e pobreza, consumo de propagandas sofisticadas e com uma mídia polarizada formada por burgueses debochando cotidianamente da miséria e ignorância do povo.
Claudio Pereira e Geografo, professor e estudante de Direito da UFPA.                      





CONCEITO DE CULTURA E SUA RELAÇÃO COM O ETNOCENTRÍSMO E O RELATIVISMO CULTURAL SOB A PERSPECTIVA DO DIREITO

CONCEITO DE CULTURA E SUA RELAÇÃO COM O ETNOCENTRÍSMO E O RELATIVISMO CULTURAL SOB A PERSPECTIVA DO DIREITO
Por Claudio Pereira

Um desafio para a sociedade contemporânea é superar a incapacidade da maioria em respeitar e conviver com a diversidade cultural, étnica e racial. Hoje, os ordenamentos jurídicos da maioria dos países possuem mecanismos que coíbem a intolerância e a ação preconceituosa dos indivíduos, entretanto, como veremos no decorrer deste trabalho, trata-se de algo complexo, haja vista a fragilidade de normas vigentes frente ao poder econômico ou ao preconceito dissimulado da maioria das pessoas.
Para Ruth Benedict em seu livro O crisântemo e a espada, cultura é como uma lente através do qual o homem vê o mundo.
Num sentido estrito, cultura significa um complexo de padrões de comportamentos, das crenças, das instituições, das manifestações artísticas, intelectuais, transmitidos coletivamente, e típicos de uma sociedade.
No imaginário do povo, tal palavra tem variações e sentido ambíguo. Geralmente o termo é empregado para qualificar ou desqualificar uma pessoa, um povo, etc. O antropólogo social Roberto da Matta aborda a temática contrapondo os antagonismos sobre a aplicação cotidiana do termo. Ele pergunta: _ você tem cultura? É rotina ouvirmos ou até afirmarmos que fulano não tem cultura, ou que cicrano tem cultura. Neste contexto a palavra cultura pode ser invocada para justificar superioridade ou inferioridade. Mas será que existem culturas superiores ou melhores que as outras? Se analisarmos do ponto de vista do senso comum, sim. Mas se fizermos uma análise racional ou filosófica, veremos que isto é mero contrassenso. Cada povo desenvolveu seus hábitos e costumes no tempo e no espaço. Todos eles, nos diferentes espaços que viveram ou vivem conseguiram criar meios de se comunicar e sobreviver frente às intempéries que os cercavam. O que se depreende é que o termo cultura tomou uma conotação ideológica ao longo do tempo. Estava refletindo sobre isto pegando como exemplo a chamada linguagem culta considerada atualmente no Brasil, ora, a língua portuguesa não derivou da língua falada pela aristocracia romana. As línguas neolatinas, entre elas o português, derivaram do latim vulgar. O reforço negativo e discriminatório ganha contornos maiores, sobretudo pela insipiência, a falta de conhecimento do povo sobre a suas próprias origens e história. Cultura neste contexto não virou somente sinônimo de status, mas em ideologia para os que pensam em perpetuar a dominação do homem pelo homem.
A sociedade alicerçada na divisão de classe sempre criou e criará meios para justificar a desigualdade de condições entre os membros da mesma e assim perpetuar seus valores e consequente existência. Os romanos se consideravam a luz contra a barbárie do mundo antigo. Para eles, suas leis, seu modo de agir e pensar deveriam ser seguidos em todas as áreas que o império alcançasse o domínio. Ainda hoje, os descendentes da nobreza feudal ver diferença até na cor do sangue. Na Inglaterra, o fato de estudar em Oxford, o sotaque, ou a maneira de tomar o chá, difere os indivíduos naquele país. O que chama atenção é que desde a antiguidade clássica as camadas subalternas assimilam essa “ideologia” ou preconceitos. É comum nos dias atuais, pessoas da parcela mais pobre da sociedade querer se comportar como as pessoas mais ricas, seja no modo de falar, vestir ou até de pensar. Desta forma o status quo se perpetua.

A questão da Xenofobia.

No final do século XV, os europeus estenderam seu domínio para o que hoje denominamos de América. Quando aqui chegaram, encontraram povos que viviam aqui há milhares de anos. Os europeus passaram a denominar de índio todo habitante da América, independentemente da língua, dos costumes e tradições dos vários povos que aqui viviam. Para eles, os indígenas eram hereges, preguiçosos e sem cultura. Os europeus serviam-se de sua religião, costumes e tradições para julgar outros povos. Agiam assim de forma etnocêntrica. Mas o que é o etnocentrismo? Etnocentrismo, etimologicamente quer dizer: etino-povo e centrismo-centro. Neste contexto, o etnocentrismo é a tendência que alguns povos têm em colocar seus hábitos, costumes e crenças como superiores a dos demais povos. Mas será que o etnocentrismo se restringe apenas aos europeus? Não. Cultura é um fenômeno universal. A própria noção de que a sociedade é o centro da humanidade denota o que citamos anteriormente. Todos os impérios do passado fizeram uso do etnocentrismo para subjugar e justificar a exploração sobre outros povos. Na atualidade, em espaços distintos da terra, povos que tem uma origem comum, mas que por motivos de técnicas e sobrevivência, desenvolveram-se em espaços naturais os geográficos diferentes, têm sua visão comum sobre suas culturas. Os países ocidentais creem piamente que o modelo de desenvolvimento socioeconômico proposto por eles é o único certo a ser seguido por todos. Na Ásia menor, ou Oriente Médio para os europeus, muitos creem que o domínio de uma determinada religião sobre o globo terrestre é solução para a humanidade.
A multiplicação dos preconceitos culturais

À luz dos ordenamentos modernos sobre os direitos fundamentais humanos que primam pela igualdade, à liberdade e a fraternidade universal entre os povos, pode levar à “crença” de um status civilizatório integral. Acontece que muito do que está no papel foi conquistado a ferro e fogo por aqueles que desacreditaram ou perceberam a nudez dos discursos do rei em períodos distintos da história. Neste contexto, as constituições ocidentais têm sido promulgadas com contradições entre o conservadorismo e o progresso cultural. Elas coagem e inibem atitudes, mas não impedem que “novos” preconceitos surjam. Algo constrangedor, mas também cômico, ocorreu quando cheguei ao sudeste paraense e me deparei como o modo que as pessoas daqui se referem ao povo maranhense. Pensei xenofobia na Amazônia? Entre pessoas que historicamente são subjugadas e que deveriam repudiar qualquer forma de preconceito? Paulo Freire, renomado educador brasileiro falava da auto desvalia, ou seja, a tendência que os povos oprimidos têm para imitar os valores do opressor em detrimento dos seus.
Nitidamente tal postura e atitude de boa parte da população local foram criadas não por eles, que apenas a assimilaram diante da compreensão simplória do desenvolvimento da trama social, mas por aqueles que chegaram em outros tempos para explorar as riquezas naturais da Amazônia, que para justificar a sanha sedenta por riqueza, tratavam a população nativa como preguiçosa. Atualmente, empresas multinacionais e grileiros do centro-sul, favorecidos pela própria estrutura de poder local e federal são exploradores e causadores de problemas em várias partes na Amazônia ou no cerrado. O que dizer da famigerada lei Kandir?
Os romanos consideravam bárbaros todos os povos que subjugavam. A igreja medieval taxava de hereges quem questionasse seus dogmas. A Alemanha nazista intitulou seu povo como uma raça superior. Atualmente a xenofobia se expande entre povos que foram “desovados” em um passado recente. A Europa que no passado espalhou seus pobres pelo mundo, hoje, se nega a recebê-los no seu território. O padeiro francês e o imigrante italiano que fugiram da miséria, encontraram trabalho e aconchego no sul do Brasil, hoje, reinventaram um passado e proliferam idéias preconceituosas contra nordestinos, negros, etc. Nos Estados Unidos, pasmem! Alguns membros da população negra têm movimentos organizados contra a presença de latino americanos naquele país.
Atualmente, o maior desafio da sociedade global é aprender a conviver respeitando a diversidade cultural, étnica e racial, coisa que me parece ainda distante de ser alcançada, ainda mais em um modo de produção que tem na desigualdade o pilar de sua sobrevivência reforçando-a de forma explicita e implícita cotidianamente.

Claudio Pereira é Geógrafo, professor e estudante de Direito da UFPA.

Referências Bibliográficas

MATTA, Roberto. Você tem cultura? Artigo publicado no Jornal da Embratel, Rio de Janeiro, 1991.