Por Claudio Pereira
A contratação de médicos
estrangeiros pelo governo brasileiro é prova cabal da mediocridade oferecida ao
povo pelo sistema neoliberal no campo da saúde, área que o Brasil nunca foi
exemplo. Neste sistema caro leitor, se queres serviços com mais qualidade, pague
dobrado! Há, além disto, três problemas endêmicos no país: 1) a falta de
universidades e falta de interesse do governo em abrir faculdades de medicina
(quimera universidade fosse equiparada a estádios e professores tratados como
estrelas do futebol); 2) O conservadorismo “elitista” presente na cabeça de
muitos formandos no curso de medicina (tempo é dinheiro, pouca concorrência
também). Capitalista que se prese não quer povo saudável. As péssimas condições
das escolas públicas (falta de professores, de prédios, livros, greves
periódicas por melhores condições de trabalho e salários etc.) mina ao longo
dos anos a capacidade da maioria dos alunos de disputar em par de igualdade as
parcas vagas dos cursos de medicina das poucas universidades públicas
brasileiras, ocupadas majoritariamente por alunos oriundos da rede privada ou melhor,
de certas escolas privadas com mais qualidade de ensino; os alunos das classes
A e B (não a fantasiosa classe média do PT) se não conseguem entrar na
universidade pública, podem pagar até 6.300,00 reais por um curso particular.
Muitos se formam as coxas. Isto é o que aponta os resultados no exame do
Cremesp - Conselho de Medicina de São Paulo em 2012, onde 54,5% dos alunos que
se formaram em faculdades paulistas foram reprovados no exame, mas não há
obrigatoriedade de passar no exame para conseguir o registro no conselho de
medicina. O enade é outro termômetro que mostra o péssimo desempenho dos
estudantes de medicina do país. 1 e 2 são notas rotineiras da maioria das
faculdades de medicina. Como não precisam do revalida, muitos formados no qual a
família tem patrimônio elevado, fazem suntuosos prédios onde montam suas
clinicas aparentemente boas. Para a maioria dos alunos da rede pública,
desprovidos de recursos, resta apelar para o funil do neoliberal PROUNI ou ainda
ao contraditório FIES que é arrecadado em grande parte das apostas realizadas
em jogos lotéricos. Questionar a qualidade dos médicos estrangeiros (pra não
dizer cubanos) é menos válido e antagônico, sobretudo em um país com um dos
piores sistemas de saúde do mundo: o Brasil. Os Conselhos de Medicina
proliferam discursos contraditórios: ao passo que duvidam da qualidade dos
médicos estrangeiros, reconhecerem a péssima formação da maioria dos médicos
brasileiros; 3) A famigerada xenofobia tão conhecida de brasileiros que tentam
fazer a vida nos países capitalistas mais desenvolvidos agora se manifesta aqui
nas passeatas e discursos reacionários contra os médicos estrangeiros. A
mediocridade de formação social em certos cursos não é de se estranhar dentro
da universidade, pois a mesma, desde sua criação nunca foi exemplo de inclusão.
Salvo exceção de alguns livres-pensadores, a maioria dos formados em
universidades públicas ou privadas são despolitizados e alienados, prontos para
servir a estrutura sem questionar.
Para encerar esse pequeno
ensaio, aconselharia os reacionários e os desinformados de plantão a fazerem
uma analise comparativa do IDH e os indicadores de saúde cubano e brasileiro.
Faço um alerta: informe-se com dados da OMS e até da ONU, pois há revistas
reacionárias que distorcem os dados sem o mínimo escrúpulo.
Claudio Pereira é cartunista, geógrafo, professor da rede estadual e
bacharel em Direito pela UFPA.
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