Com exceção de umas duas ou três matérias
com alguma conotação crítica, tipo a que foi veiculada recentemente num
fantasioso programa dominical sobre a educação brasileira, se você sintonizar
qualquer um dos grandes canais que monopolizam a programação de TV aberta no
Brasil provavelmente verá baixaria no programa A, violência no B, músicas
toscas no X, futebol no Y, notícias sobre o caos infraestrutural urbano de uma
dada cidade no M e falso otimismo no N. E os mais afortunados seriam uma
exceção à regra? Se você disser que sim, posso afirmar que os mesmos podem
assinar uma TV a cabo dos mesmos grupos que controlam a TV aberta e
potencializar a alienação. E a internet? Se tivéssemos um povo com senso
crítico e preparado educacionalmente, talvez a massa fizesse bom uso da mesma e
não se limitaria a potencializar a ignorância via rede mundial de computadores.
Observe que os campeões de popularidade na internet são praticamente os mesmos
da TV aberta.
Quando o senso comum cairá na real e
entenderá que o golpe de estado de 1964 foi uma contrarrevolução articulada pela
burguesia nacional com apoio das potências capitalistas, sobretudo os EUA (não
passava nem pelos piores pesadelos dos fascistas de Washington a formação de
uma imensa Cuba no sul da América) para frear uma revolução socialista em
marcha neste país? E que os políticos e grupos econômicos que se intitulam
democratas hoje são praticamente os mesmos da era militar? Ora, neste grupo só saíram
de cena os militares após garantir o status quo e assegurar a manutenção do
estado burguês.
É revoltante viver em um país onde os
meios de comunicação são controlados pelos mesmos indivíduos que financiaram e
apoiaram a ditadura.
A mídia brasileira jamais perdeu seu
caráter reacionário e hoje há quem diga que ela é um quarto poder. Isto pode
ser percebido no poder que ela exerce sobre leitores e telespectadores, fazendo
julgamentos de valores sumários, pagando salários milionários a jornalistas que
são a encarnação pura do conservadorismo, manipulando informações, veiculando a
geopolítica do ponto de vista estadunidense, limitando o acesso de artistas,
exaltando os valores puramente materialistas da burguesia, massacrando
cotidianamente os valores dos trabalhadores e divulgando matérias com caráter
meramente político. É claro que para que
isto funcione é necessária a cumplicidade governamental e manutenção da ignorância
generalizada das massas, sendo o sistema educacional o principal alvo e vítima
em face do seu potencial transformador no plano intelectual. Steve Bibo disse certa vez que a maior arma
do opressor é a mente do oprimido.
Onde
quero chegar?
Resolvi escrever este texto após a
veiculação de uma matéria jornalística onde foram expostas as mazelas
educacionais dos estados do Maranhão, Alagoas e Pernambuco. Minha pergunta é: e
os outros estados da federação? Será que a mídia está realmente preocupada com
tais mazelas? Acredito que não, pois a veiculação de tais matérias engavetadas
quase sempre tem caráter político, além de garantir a aparência democrática da
mídia reacionária frente à massa crédula.
Geralmente o mesmo jornal que de vez em
quando veicula alguma matéria intitulada como furo de reportagem é o mesmo que
se posiciona abertamente contra os professores quando estes entram em greve. É
só o trabalhador reagir aos desmandos do estado burguês que a máscara cai. Uma
coisa é certa, muitos jornalistas são ótimos atores e fazem a massa rir, chorar,
se comover, se conformar, convenientemente.
“A velha
educação saturada de espírito de classe fingia dar educação em par de
igualdades para camponeses, operários e burgueses, quando na verdade favorecia
os indivíduos mais ricos da sociedade.”
(Lenin, in Tarefas
Revolucionárias da Juventude, p. 12).
Com base na citação de Lenin pergunto:
essa é a educação que queremos? Uma educação saturada de espirito de classe no
qual a maioria é educada para servir uma minoria que é educada para mandar,
perpetuando assim a sociedade de classes, a corrupção e os privilégios?
Já que a mídia burguesa está tão
preocupada com a educação dos pobres, porque não substitui os programas
imbecilizantes que veicula de domingo a domingo por programas de caráter educacional,
intelectual e debates com quem realmente entende de educação, entre outros?
Existem ótimos filmes e documentários brasileiros que abordam temas diversos
com teor crítico e intelectual, mas jamais os vi serem exibidos em algum meio
de comunicação de massa. Cadê a música decente nos programas dominicais? A
ostentação, o arrivismo e o voyeurismo estão ganhando de goleada da decência e
da intelectualidade. O documentário Pro dia Nascer Feliz seria uma boa
indicação para ser exibido no domingo no “horário nobre”. Segundo o mesmo, em 2006, havia 162.000 escolas no Brasil
das quais 129.000 não tinham internet; 25.000 não tinham eletricidade; 40.000
não tinham biblioteca e 10.000 não tinham banheiro.
Duvido que isto tenha mudado? Em um
documentário mais recente: Estudo de
caso sobre a hidrelétrica do Xingu, uma professora faz enorme esforço para
ministrar aula para quatro turmas das séries iniciais num galpão desprovido de
infraestrutura na zona rural de Tucuruí. Mas sabem o que estão
dizendo certos educadores paraenses após o escândalo da educação nordestina
divulgada na TV? _ E nós aqui reclamando de barriga cheia! No Pará 80 mil
pessoas sequer tem registro de nascimento, ou seja, não existem para o Estado.
Tocar nos verdadeiros problemas
causadores do caos educacional neste país não interessa, pois se a burguesia
ir além de suas poucas matérias tendenciosas, pode entregar nas mãos do povo a
chave das algemas que o prende, o que provocaria uma reviravolta no sistema
corrupto em que estamos inseridos.
É na TV educativa “que não se sabe por
qual motivo” o governo não torna universal o sinal da mesma que se encontra uma
programação mais coerente e em consonância com o que prescreve a Constituição
da República em seu capítulo V: da Comunicação Social.
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