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terça-feira, 11 de março de 2014

TV terror

Por Claudio Pereira


Com exceção de umas duas ou três matérias com alguma conotação crítica, tipo a que foi veiculada recentemente num fantasioso programa dominical sobre a educação brasileira, se você sintonizar qualquer um dos grandes canais que monopolizam a programação de TV aberta no Brasil provavelmente verá baixaria no programa A, violência no B, músicas toscas no X, futebol no Y, notícias sobre o caos infraestrutural urbano de uma dada cidade no M e falso otimismo no N. E os mais afortunados seriam uma exceção à regra? Se você disser que sim, posso afirmar que os mesmos podem assinar uma TV a cabo dos mesmos grupos que controlam a TV aberta e potencializar a alienação. E a internet? Se tivéssemos um povo com senso crítico e preparado educacionalmente, talvez a massa fizesse bom uso da mesma e não se limitaria a potencializar a ignorância via rede mundial de computadores. Observe que os campeões de popularidade na internet são praticamente os mesmos da TV aberta.
Quando o senso comum cairá na real e entenderá que o golpe de estado de 1964 foi uma contrarrevolução articulada pela burguesia nacional com apoio das potências capitalistas, sobretudo os EUA (não passava nem pelos piores pesadelos dos fascistas de Washington a formação de uma imensa Cuba no sul da América) para frear uma revolução socialista em marcha neste país? E que os políticos e grupos econômicos que se intitulam democratas hoje são praticamente os mesmos da era militar? Ora, neste grupo só saíram de cena os militares após garantir o status quo e assegurar a manutenção do estado burguês.
É revoltante viver em um país onde os meios de comunicação são controlados pelos mesmos indivíduos que financiaram e apoiaram a ditadura.
A mídia brasileira jamais perdeu seu caráter reacionário e hoje há quem diga que ela é um quarto poder. Isto pode ser percebido no poder que ela exerce sobre leitores e telespectadores, fazendo julgamentos de valores sumários, pagando salários milionários a jornalistas que são a encarnação pura do conservadorismo, manipulando informações, veiculando a geopolítica do ponto de vista estadunidense, limitando o acesso de artistas, exaltando os valores puramente materialistas da burguesia, massacrando cotidianamente os valores dos trabalhadores e divulgando matérias com caráter meramente político.  É claro que para que isto funcione é necessária a cumplicidade governamental e manutenção da ignorância generalizada das massas, sendo o sistema educacional o principal alvo e vítima em face do seu potencial transformador no plano intelectual. Steve Bibo disse certa vez que a maior arma do opressor é a mente do oprimido.
Onde quero chegar?
Resolvi escrever este texto após a veiculação de uma matéria jornalística onde foram expostas as mazelas educacionais dos estados do Maranhão, Alagoas e Pernambuco. Minha pergunta é: e os outros estados da federação? Será que a mídia está realmente preocupada com tais mazelas? Acredito que não, pois a veiculação de tais matérias engavetadas quase sempre tem caráter político, além de garantir a aparência democrática da mídia reacionária frente à massa crédula.
Geralmente o mesmo jornal que de vez em quando veicula alguma matéria intitulada como furo de reportagem é o mesmo que se posiciona abertamente contra os professores quando estes entram em greve. É só o trabalhador reagir aos desmandos do estado burguês que a máscara cai. Uma coisa é certa, muitos jornalistas são ótimos atores e fazem a massa rir, chorar, se comover, se conformar, convenientemente.

“A velha educação saturada de espírito de classe fingia dar educação em par de igualdades para camponeses, operários e burgueses, quando na verdade favorecia os indivíduos mais ricos da sociedade.”
(Lenin, in Tarefas Revolucionárias da Juventude, p. 12).
Com base na citação de Lenin pergunto: essa é a educação que queremos? Uma educação saturada de espirito de classe no qual a maioria é educada para servir uma minoria que é educada para mandar, perpetuando assim a sociedade de classes, a corrupção e os privilégios?
Já que a mídia burguesa está tão preocupada com a educação dos pobres, porque não substitui os programas imbecilizantes que veicula de domingo a domingo por programas de caráter educacional, intelectual e debates com quem realmente entende de educação, entre outros? Existem ótimos filmes e documentários brasileiros que abordam temas diversos com teor crítico e intelectual, mas jamais os vi serem exibidos em algum meio de comunicação de massa. Cadê a música decente nos programas dominicais? A ostentação, o arrivismo e o voyeurismo estão ganhando de goleada da decência e da intelectualidade. O documentário Pro dia Nascer Feliz seria uma boa indicação para ser exibido no domingo no “horário nobre”. Segundo o mesmo, em 2006, havia 162.000 escolas no Brasil das quais 129.000 não tinham internet; 25.000 não tinham eletricidade; 40.000 não tinham biblioteca e 10.000 não tinham banheiro.
Duvido que isto tenha mudado? Em um documentário mais recente: Estudo de caso sobre a hidrelétrica do Xingu, uma professora faz enorme esforço para ministrar aula para quatro turmas das séries iniciais num galpão desprovido de infraestrutura na zona rural de Tucuruí. Mas sabem o que estão dizendo certos educadores paraenses após o escândalo da educação nordestina divulgada na TV? _ E nós aqui reclamando de barriga cheia! No Pará 80 mil pessoas sequer tem registro de nascimento, ou seja, não existem para o Estado.
Tocar nos verdadeiros problemas causadores do caos educacional neste país não interessa, pois se a burguesia ir além de suas poucas matérias tendenciosas, pode entregar nas mãos do povo a chave das algemas que o prende, o que provocaria uma reviravolta no sistema corrupto em que estamos inseridos.
É na TV educativa “que não se sabe por qual motivo” o governo não torna universal o sinal da mesma que se encontra uma programação mais coerente e em consonância com o que prescreve a Constituição da República em seu capítulo V: da Comunicação Social.

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