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domingo, 12 de janeiro de 2014

O prego e o martelo

       Por Claudio Pereira


Por quase todos os lugares que ando ouço sem querer, idiotices que além de ridículas chegam a ser constrangedoras devido ao alto teor de preconceito e estupidez das mesmas. Recentemente ouvi um indivíduo dizer a outro: _Quer comparar maranhense com paraense? Supostamente o mesmo estava apregoando uma possível superioridade do paraense sobre o maranhense, coisa muito comum aqui no sudeste paraense. Sócrates disse que o maior bem é a sabedoria e o pior mal a ignorância. Provavelmente tal pessoa está mais para o segundo caso. O que nos chama a atenção é saber que tal indivíduo pertence a grupos étnicos e classe social historicamente discriminados neste país. Que o mesmo, além de desconhecer sua própria história, a de seu estado, de sua região, do seu país, é um fator multiplicador de preconceitos que certamente não foi o mesmo que criou e, além de dar um tiro no próprio pé, fomenta a desunião entre pessoas com interesses em comum, algo útil, sem dúvida, não para ele, mas para governos e capitalistas corruptos que pouco estão ligando para as questões sociais Brasil a fora. Pouca carniça para tolo é ouro.
Outro dia um blog divulgou que a Vale dera o maior presente de natal da história da Receita Federal. A empresa que teria que pagar uma quantia superior a quarenta bilhões no prazo de nove anos à receita devido suposta sonegação fiscal, pagará somente metade desse montante. Quem presenteou quem?
Os ufanistas de plantão se vangloriam de Parauapebas ter atualmente o maior PIB do Pará. A mineração é a principal força econômica do município, mas na partilha dos lucros a mineradora fica com 98% e Parauapebas com menos de 2%, já que o restante dos 2% é dividido entre União e Estado do Pará. Só muita ingenuidade ou fisiologismo para que os cidadãos locais se vangloriem de descomunal transação.
Outro dia ouvi um cobrador de transporte coletivo dizer que se tal mineradora tomasse as rédeas da administração municipal, Parauapebas seria uma cidade de primeiro mundo. Uma coisa é certa: se o mesmo percebesse tamanha exploração, veria que a mesma ao invés de possível redentora é na verdade um problema.
Outro dia o rei do futebol, titulo dado não sei com que intuito ao mesmo, deu grande demonstração de subserviência aos interesses dos ricos e exploradores descendentes de escravocratas desse país, ao pedir que o povo esquecesse as manifestações e desse atenção à seleção brasileira de futebol. Já o outro rei foi recentemente citado em documentos comprometedores com a ditadura militar. Para o senso comum, futebol e música são apenas meras formas de entretenimento.
O que dizer do trabalhador que acorda de madrugada que pega duas ou mais conduções caras e precárias para chegar ou voltar do serviço mal remunerado que ao chegar altas horas da noite, extasiado, liga a TV para assistir parasitas disputando milhões em casas sofisticadas, praticando orgias diversas? Diz o mesmo que está se divertindo. Com tanta concentração de renda, quem é o bobo da corte? Quem se diverte à custa de quem? Se tempo é dinheiro quem trabalha diuturnamente terá dinheiro para queimar atoa?
Outro dia, cidadãos estavam enraivados por que foram vítimas de estelionatários. O golpe foi o seguinte: os mesmos possuíam dividas elevadas com determinado credor e pagaram quantias bem inferiores a certa empresa para limpar o nome dos mesmos. A mídia sensacionalista se mostrou comovida com tais trabalhadores supostamente honestos, mas não atentou o telespectador para a fraude bilateral explicita nos relatos das “vítimas”.
Outro dia a ABL homenageou um jogador e um técnico de futebol, quanto ao último não faço a mínima ideia de tal mérito, já o segundo deve ser pelos gols de letra que já fez. Não bastasse, FHC foi nomeado o novo imortal da academia e fará companhia a José Sarney. Quem serão os próximos? Uma modelo? Um sertanejo universitário? Seu Graison? Um terrorista? Até Harvard já entrou na onda. Quem matou a poesia: foi o jabá da academia? É o que diz a letra de uma das músicas da banda Engenheiros do Havaí.
O Zé do Povo crê que se esses caras estão lá é por que merecem.
Há um quadro no JH que expressa bem a domesticação dos trabalhadores aos interesses do patronato. Reiteradamente é passado o perfil do empregado ideal, a forma como ele deve pedir emprego, se vestir, pedir aumento salarial, que curso técnico fazer, ou seja, insinuando a servidão. Para legitimar o discurso, sempre há um especialista, "não se sabe" a mando de quem, reforçando tais orientações. Agora pergunte se há fomento para que os trabalhadores questionem seus patrões ou leiam a CLT? Não que eu considere a CLT algo moderno e democrático, pois, para mim a mesma não passa de uma consolidação das relações servis da Luta de Classes. Se a luta pelo pão é imediata, o mesmo não se pode dizer do combalido judiciário e se o trabalhador se precipitar pela via ilegal, pedrinhas nele.
Trabalhador bom é o que deixa seus problemas no portão da fábrica. Mas se a fábrica for também parte do problema?
Futilidades, preconceitos, corrupção, idolatria de idiotas, servem a quem?
Quando deixaremos de ser prego e passaremos a ser martelo? Se depender de quem monopoliza os poderes político, judiciário, econômico: NUNCA!!!

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