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terça-feira, 28 de janeiro de 2014

A conivência do capital: Bashar al-Assad versus Kadafi


Por Claudio Pereira
 


A primavera árabe foi um fenômeno de revolução popular que ocorreu em diversos países do norte da África e do Oriente Médio. Tal terminologia foi inspirada na Primavera de Praga e Primavera dos Povos de 1848. Em 2010 a morte de um jovem operário deu inicio a uma série de protestos populares lutando por democracia, que culminou com a queda de ditaduras de décadas em países como o Egito, Tunísia, Jordânia, entre outros e conquistas no plano dos direitos civis. Durante esse processo revolucionário, uma coisa nos chamou à atenção: a maneira como foi a queda de Muammar  kadafi na Líbia. Diferente das outras ditaduras que tinham pleno apoio das potências capitalistas ocidentais, muitas delas financiadas pelo imperialismo após o processo de independência política pós-Segunda Guerra Mundial de muitos países daquela região que migraram do comando direto do imperialismo para o indireto, Kadafi era odiado pelas potências ocidentais, até porque chegou ao comando da Líbia por meio de um processo revolucionário que culminou com a perda do monopólio de grandes empresas petrolíferas inglesas e estadunidenses naquele país, além das rédeas do poder político. Lembre-se que a confusão no Oriente Médio começa justamente no momento em que o petróleo se torna uma fonte de energia estratégica para a indústria mundial. Kadafi pressentiu a queda da URSS e adquiriu boa parte do arsenal bélico da mesma. Também escreveu o livro Verde no qual pregava a união não só dos Povos Árabes, mas de todos os povos do terceiro mundo contra o imperialismo e seu braço ideológico: o fascismo. O grande capital não conteve sua ira, se revoltou, lançou ataques violentos contra a Líbia e perpetuou um dos piores assassinatos da história, o da filha de Kadafi de apenas dois anos de idade. Kadafi ganhou apoio dos movimentos revolucionários mundo a fora, assim como o apoio de grande parcela de pessoas com consciência crítica. Diante de tamanho terror que nem os jornais burgueses podiam mais esconder, Washington e seu aliados deram uma recuada, mas promovendo claro, outras formas abertas ou veladas  de retaliações contra o povo libanês (embargos e campanhas difamatórias, entre outras). É importante ressaltar que sob o comando de Kadafi, a Líbia chegou ao posto de melhores indicadores sociais do continente africano e as mulheres e os negros passaram a ter participação mais ativa no processo de formação socioeconômica e política do país.
Nos últimos anos antes de sua morte, Kadafi parecia esquecido pelos fascistas do capital, a ONU e os EUA até eliminaram certos embargos contra a Líbia, mas com a derrubada em sequência de ditaduras em decorrência da Primavera Árabe, os Estados Unidos e seus aliados souberam se aproveitar, e promoveram a derrubada e o assassinato de Kadafi. Ao perceber que Kadafi não cairia, a OTAN entrou em ação lançando ataques contra a Líbia e financiou grupos de mercenários para conseguir seu intento de décadas: ter novamente um fantoche no controle político daquele país. Não tinha álibi melhor para o imperialismo: aproveitando-se de uma conjuntura, se livrou daquele que era seu maior inimigo no mundo Árabe. Fizeram questão de divulgar as imagens do corpo de Kadafi sendo carregado pelos “rebeldes” por todos os meios possíveis. Não fizeram o mesmo com um antigo aliado seus da época da Guerra Fria, quando supostamente jogaram seu corpo no mar.
Para o senso comum Kadafi era apenas um daqueles ditadores cruéis e sanguinários. Não é de se estranhar tal estereótipo, pois a imagem de Kadafi foi marginalizada do cinema aos livros, inclusive depois de sua morte, quando uma jornalista francesa lançou um livro tendencioso sobre a vida do mesmo. O capital age como os imperadores romanos e sabe que não basta matar o corpo, é preciso matar o nome para que não vire um Marti, um exemplo. Como o sistema atual não admite dualidade de ideologia, a burguesia faz do povo um cavalo que puxa uma carroça unilateralmente, guiando-a sem questionar nada, com campo de visão limitado para perceber que existem outras formas de organização da produção econômica e da sociedade.
Reconheço certas antinomias do governo de Kadafi, mas o mesmo jamais usufruiu daquilo que o direito burguês chama de princípio do contraditório, não teve o tratamento que foi dado a ditadores de verdade. Aliás, onde esses ditadores foram derrubados, praticamente nada mudou, pois os novos governantes que a mídia burguesa aplaudiu, simplesmente camuflaram a ditadura com a roupagem democrática. O desemprego continua nas alturas, assim como as desigualdades sociais e as liberdades de expressão. Na Síria está sendo pior, o ditador Bashar al-Assad reage violentamente contra a população daquele país e a ONU, os EUA, a OTAN, não fazem nada. Não fazem porque não lhes interessa, não é conveniente para eles a queda de tais regimes, são seus aliados, são bandidos fingindo ser democratas. Resta aos mesmos, fingir e em último caso, quando não houver mais saída para tamanha barbárie e pressão da opinião pública mundial, derrubar tais aliados e penalizá-los com exílios em algum país ocidental ou quem sabe, com pena de morte monitorada, como foi o caso de Saddan Hussein. A mídia se encarrega do resto e as rédeas continuarão nas mãos de fascistas de todas as cores e a maioria do povo incapaz de interpretar os fatos, enxergando tudo unilateralmente, continuará a se contradizer frente à labuta diária, ao passo que defende valores extremamente marginalizantes da sociedade estratificada do capitalismo selvagem.
Outro ponto a ser observado: apesar da tática burguesa de retaliar e distorcer qualquer movimento que cheire revolução de cunho socialista seja pela força bruta ou lançando filmes exaltando pessoas que na verdade eram fascistas disfarçados de social-democratas (Thatcher), esses personagens são antipatizados pelo povo e contrariamente àqueles que eles deturpam a imagem via cinema, revistas, livros, etc., caem muitas vezes na graça do povo. Caem porque em certo momento da história, parte das pessoas percebem as antinomias dos burgueses e a coerência da luta e das ideias dos estigmatizados e estereotipados terroristas. Gandhi, Guevara, Marx, Bakunin, Fidel, entre tantos outros revolucionários, não é difícil ver seu bustos estampados em camisetas e bonés mundo a fora, agora Thatcher, Reagan, FHC, só em camiseta de campanha política financiadas por eles mesmos. O povo pode até engolir sapo, mas cascavel viva não dá.  

Notas rápidas

Começou nesta semana a farsa de Davos na Suíça.
Bem distante das massas, guarnecidos pela geografia dos Alpes suíços e por uma estrutura de segurança pública e particular de fazer inveja aos suíços, os grandes capitalistas e seus empregados de estimação, “preocupados” com a crescente desigualdade que aumenta ano após ano, procuram respostas para as causas da desigualdade e fórmulas para acabar com a pobreza.
Se depender de tais fascistas, eles vão acabar com a pobreza não socializando a riqueza, mas matando o pobre de fome, guerras, em presídios, desemprego, ignorância etc., pois, a real intenção de Davos é extinguir a gritante desigualdade socioeconômica no mundo, mas avaliar velhas e novas táticas de dominação burguesa.
Do lado de cá do equador, lá nas proximidades do trópico de capricórnio e da massa de operários espoliada, está rolando o Fórum Social Mundial. A mídia burguesa, claro não está veiculando notícias sobre o mesmo.
Impostos e divida interna pública
Recentemente os jornais divulgaram o recorde de arrecadação de impostos no Brasil. Para onde vai tanto dinheiro? Entendo a indignação dos jornalistas papagaios de capitalistas que querem mesmo é que toda essa grana vá mesmo é para as contas bancárias de seus patrões, preferencialmente na Suíça. Eles jamais mencionam que parte dessa grana é destinada para pagar títulos da divida interna pública que tem seus títulos negociados na lógica da acumulação capitalista. Em 2002 tal divida girava em torno de 600 bilhões de reais, hoje, mesmo o governo sendo um pagador de juros pontual, a mesma já superou a cifra dos dois trilhões de reais.

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